Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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terça-feira, 31 de agosto de 2010

PARA MOTORISTA!! MINHA AMIGA FICOU.

Nos olhos verdes e pele clara, a descendencia alemã do sul de Rita. Morena nordestina, olhos castanhos escuros é Alda que veio da Paraíba. Já passaram dos cinquenta anos, vivem a muito tempo em São Paulo e se tornaram grandes amigas. Cada uma do seu jeito.
Alda compra quase tudo que vê e adora ser fotografada. Rita é mais reservada e seletiva.
Foi em Canoa Quebrada que conversei com elas pela primeira vez. Estava passeando em Fortaleza e chegamos no mesmo voo fretado que partiu de São Paulo.
Almoçamos e comentei que ia criar meu proprio roteiro para o dia seguinte e que havia cancelado o passeio programado.
-Vou ao mercado comprar algumas coisas e depois pretendo pegar um onibus circular para conhecer um pouco do povo e da cidade. Percebi o interesse nos olhos delas e também resolveram cancelar o passeio previsto e me acompanhar.
No dia seguinte, após o café fomos para o mercado de artesanatos que fica no centro da cidade, ao lado da catedral. Acompanhei-as nas compras e percebi que Alda so comprava se Rita aprovasse.
Fiz minhas compras, almoçamos e pegamos o grande circular que dá a volta em toda cidade.
Sentei-me no lado da janela, fui apreciando a paisagem, tirando fotos e convivendo com aquela população de quase 3 milhões de habitantes.
Depois de passar por mais de três terminais, tivemos que descer no de Messajana para trocar de onibus. E pegamos uma grande fila. Como estava a frente, subi e sentei-me.
Alda veio logo atrás e pediu para Rita tirar uma foto subindo no onibus.
Entrou, virou-se e fez pose. As pessoas se afastaram e Rita tirou a foto. Nesse instante, o motorista olhando pelo retrovissor e vendo que ninguém mais subia, fechou a porta e foi embora.
Deixou Rita e os outros passageiros. Formou-se uma grande algazarra dentro do onibus. Olhei para trás e vi Rita correndo, gritando e gesticulando ainda com a maquina na mão.
Dentro a confusão era geral. Alda gritava. -Pára motorista, minha amiga ficou!
Os passageiros também gritavam. -Motorista a mulher ficou, paaara!
No meio de tanta gritaria, olhando pelo retrovisor ele parou. Percebendo que ela não havia desistido, abriu a porta e ficou esperando.
Rita entrou no onibus com respiração ofegante e rosto vermelho. Não sei se era do esforço ou de vergonha. Os que estavam no ponto, talvez não acreditando que ele fosse parar, não correram junto com ela.
Ele então fechou a porta e foi embora.
Durante o restante do trajeto, o assunto era elas.
Quando descemos proximo ao hotel, ainda pude ouvir alguém dizer de dentro do onibus.
-Eita!! Essas mulhé vem de São Paulo fazer lambança aqui na nossa cidade.
Fomos para o hotel se matando de rir e Rita ainda comentou.
-Acho que o povo que perdeu o onibus deve estar me xingando até agora.
Isso fez a gente rir mais ainda de lembrar a cena.
O pessoal da excursão ficou sabendo e elas tinha que ouvir de vez em quanto.
-Páraaa motorista!!! Minha amiga ficou.

Jaf Falcão Peregrino

sábado, 7 de agosto de 2010

Bate papo de bar

Estava a lavar meia dúzia de copos e a limpar o grande balcão, quando cinco senhores adentraram ao bar conversando sorridentes e descontraídos. Ao se aproximarem, de prontidão os atendi.

-Pois não, o que deseja?
Uma cerveja, por favor. - Disse Steve Jobs
-E você, caro senhor?
Uma dose de conhaque para mim está bem. - Anunciou Sherlock Holmes
-Ok.
Eu vou querer um copo de vinho tinto seco. - Se antecipou Sócrates
-Aqui está.
Uísque, por favor. – Falou Lord Henry
Companheiro, pra mim uma branquinha. – Solicitou Luiz Inácio
-Prontinho.
-Ah nada como uma boa cachaçinha do Brasil... você deveria experimentar companheiro Sherlock. Isso é que é bebida pra homem.
-Ah ha ha ha! Caro amigo Lula, imagine só. Tenho certeza de que as doses de conhaque são de maior valia durante as minhas investigações. Aquecem o pensamento e estimulam o raciocínio.
-E você companheiro Sócrates o que acha?
-Só sei que nada sei... seria um grande erro de minha parte julgá-las tendo como meios apenas os imprecisos sentidos humanos.
-Algum comentário Harry?
-Influenciar alguém seria dar à ela a própria alma. Ela passa a não pensar com os pensamentos naturais. As virtudes que possui deixam de ser, para elas, reais.
-Pois é isto que acho! A cachaça é sem dúvida a melhor. E quanto a você pigmeu, sempre em cima do muro. – disse Lula zombando de Sócrates.
Presumo que nosso amigo Holmes não precise de minha ajuda para parir uma opinião. Ele me parece muito bem dotado de inteligência para isso Mr. Luiz fingerless. – disse Sócrates retribuindo a gozação.
-Ah ha ha ha ha ha ha! Agora você foi longe demais companheiro Shrek.
-Oh deus! Temo que esta conversa tenha saído dos trilhos da boa educação senhores. Experimentemos outro assunto.

Nisso mais um homem chegou ao bar e todos o cumprimentaram com afeto.

-Olá senhores, como estão?
-Grande Gandih, meu amigo, sente-se, estamos a nos divertir com esses dois. – Disse Jobs
O que deseja beber senhor – perguntei simpaticamente.
-Filho, desejo apenas um suco de laranja. Está bem?
-Um minuto. Aqui está senhor.

Enquanto isso, eu, humilde garçom permanecia limpando, ou melhor, fingindo limpar o que tivesse por perto. Não queria perder sequer uma respiração. Nada. Qualquer sinal que pudesse denotar o nascimento de um brilhante raciocínio era importante.
Eu estava em companhia das maiores figuras desse mundo! Apreciava aquele diálogo e observava como eles até transpiravam certa futilidade diante de trivialidades como discutir a sobre cachaça.
Tomei a vassoura em mãos, e foi quando olhando de rabo de olho, vi Sherlock acendendo ao cachimbo e começando a refletir:

-Proponho um exercício meus caros. Vejamos até onde chega criatividade e poder de reflexão de cada um de vocês.
Definir é limitar! – Disse Lord Henry.
-Harry, vai ser divertido. Comecemos?
-Como funciona detetive?
-Simples, pensarão agora sobre a teoria das vidas paralelas... Ela diz que sempre que nos deparamos com uma bifurcação, duas vidas paralelas passam a co-existir, dessa forma, apesar do seu consciente optar por uma, seu subconsciente experimentou ambas. Assim, cada um de nós é ao mesmo tempo bandido e mocinho, vítima e culpado, telespectador e ator das melhores e piores coisas da vida...
O grande barato aqui é pensar nisso e refletir em voz alta para que todos possam acompanhar o trem da imaginação durante o caminho nos trilhos do pensamento. Mas, peço para que não contaminem a imaginação com o bom senso.
-Nossa! Realmente muito interessante sua proposta meu jovem, é um assunto nada trivial.
-Quem começa?
Eu – disse Jobs – Quero expressar-me sob a forma de poesia.
-Perfeito!

“Noites em branco, acordado pensando
esquerda ou direita
chocolate ou morango
preto ou branco?

pepsi ou coca
empresa ou escola
ouro ou copas
sabedoria ou bens

o que tens? O que fazeis? És tua a vez.

Como sereis? Diferente talvez,
cada escolha um caminho,
indivíduos distintos, infinitos destinos,

paralelos a caminhar, ao céu ou ao mar
sinos a tilintar no profundo da alma,
espere, tenha calma
tentar entender é fazer-se sofrer

Aproveite a maravilha,
você esta em sua própria companhia,
aqui ou lá, em cada lugar, você a atuar
e cabeça a completar o nem ela sabe se há”.

Todos aplaudiram, e sorrindo vi Jobs agradecer aos amigos. Empolgados, via cada um ter a face transformada pelas palavras que o poético Jobs acabara de dizer.

Após o pronunciamento do primeiro, logo vi se levantar o raquítico indiano envolto em um pano branco, e pedindo a palavra.
Sua presença de gigante transbordava inundando o ambiente o que paralisou até mesmo o relógio quando começou a falar:

-“Convenhamos que pensar em um Gandhi carnívoro e agressivo seja tão absurdo quanto pensar em um sol gelado, mas, há questões que me tiram o sono todos os dias.

Pensem comigo, só existe bifurcação se as opções são opostas, não seria bifurcação se elas fossem iguais. Correto. Além disso, uma coisa só passa a existir se for simultaneamente ao o seu oposto. Antes disso não há nada, nem partículas, nem tendências, nem existência. Partindo disso, fazer escolhas significa criar opostos. Escolher o bem significa criar o mal, então do que isso adianta? Do que adianta fazer escolhas e abrir abismos entre o bem e o mal?

Então, o que fazer? Essa é a questão...”.

-Puta que pariu! Essa foi de deixar todos calados – disse Lula

Fiquei perplexo e sem saber o que fazer, o que dizer, e até mesmo o que pensar. Como poderia assim, questões sem explicação como esta permanecerem com suas respostas perdidas onde a razão humana não é capaz de chegar...

Continua...

domingo, 1 de agosto de 2010

A ave do paraíso - Alvaro Freitas

Após uma longa espera, estava finalmente a caminho do tão merecido repouso. Uma casa no meio de uma chácara tão grande, que mesmo se estourasse a terceira guerra mundial, eu não tomaria conhecimento. Em uma montanha tão alta, que estando na ponta dos pés, quase era possível ouvir os sussurros dos anjos. Distante da humanidade o suficiente para nunca mais ter que ouvir nenhuma falsidade. Por outro lado, perto o suficiente para que em uma hora de carro, pudesse fazer as minhas compras e sacar a aposentadoria.
Caminhonete abarrotada até o teto com a mudança. Calor a ferver os miolos. O velha Ford precisava de um descanso. Mais do que uma sombra de árvore, precisávamos de um posto de serviço com gasolina, banheiro e uma cerveja gelada. No horizonte, detrás de uma muralha de pó, surgia algo que lembrava um posto de combustível.
—Prá morrer de sede, morro intoxicado!
Tinha uma bomba de combustível, um caminhão em estado de putrefação e um barraco, que com um pouco de criatividade, lembrava uma loja de conveniência.
—Olá! — gritei.
Quisera ter ouvido ao menos o eco me responder, mas ia ecoar aonde?
—Olá! Alguém? — fui me afastando do carro em direção à loja.
Chegando a porta da loja, deparei com uma espreguiçadeira com um velho morto. Morto também não, mais tão prestativo quanto se estivesse. Pela porta de tela, tive a maravilhosa visão de uma geladeira com uma marca estranha de cerveja na porta.
—Senhor!?
“É, está morto sim!” — pensei.
Fui até a geladeira e me servi da primeira garrafa que vi. Ela estava sedutoramente suada. Quando estava prestes a sair:
Três e cinqüenta! — alguém gritou com voz esganiçada.
Olhei para o velho. Tão morto quanto antes.
—Olá! Para quem eu pago? – perguntei como que para as paredes.
Deixa no balcão! — respondeu.
Cheguei mais perto do pré-cadáver e notei que ao seu lado tinha uma gaiola com o pássaro mais lindo que já havia visto.
—Só tenho nota de cinco! — disse só para ver de onde viria a resposta.
Pega o troco de bala! — disse o pássaro.
“Eu não podia acreditar. Treinaram o pássaro para tomar conta da loja.” — Pensei indignado.
—Com licença! — disse um jovem à porta. — Vai abastecer?
—Vou sim! Completa o tanque e verifica a água e o óleo.
—Com prazer.
Passado o delírio, sai atrás do jovem em direção a bomba.
Três e cinqüenta, SAFADO!
Deixei os cinco sobre o balcão e sai apressado, como que fugindo de uma alma penada.
—Quem ensinou aquela ave a falar? — perguntei ao garoto.
—É a “ave do paraíso” do vovô. Ela não fala não! Por quê? — perguntou intrigado.
—Nada, pensei ter ouvido.
Mais duas horas de viagem, finalmente cheguei na casa que seria meu derradeiro endereço. Silêncio e paz. Era tudo que eu queria. Ninguém mais para me enganar, nem me roubar. Definitivamente desisti das pessoas.
Durante toda a minha vida, somente deparei com pessoas aproveitadoras e desonestas. Nunca constituí família. Meus pais me abandonaram em um orfanato enquanto era um bebê. As pessoas que mais dediquei confiança, foram as que mais me traíram.
—Chega, agora sou só eu e Deus!
Apesar de toda a carga, alguns detalhes haviam faltado. Durante a semana preparei uma pequena lista, e no sábado, fui até a cidade pegar o faltante.
A história da ave não me saía da cabeça. Claro que ela falou comigo! Eu não estava louco!
Foi então que decidi voltar lá. Passei no posto e deixei o garoto abastecendo enquanto entrei na loja sob o pretexto de uma cerveja gelada.
Lá estava o velho dormindo de boca aberta e a ave me encarando.
—Bom dia amigo! — cumprimentei cismado.
Fala ai tio! — disse o pássaro.
Tentando bancar o menos idiota possível, decidi fazer uma pergunta mais complexa para ter certeza de que ele só havia sido treinado a responder o básico.
—Esse senhor é seu dono? — perguntei olhando-a nos olhos.
Não! É o meu funcionário. — respondeu. — É meio velho mas mantém minha gaiola limpa e minha água e comida sempre fresca.
—Você confia nele?
Não sou louco de confiar nos seres humanos.
—Sabe, sinceramente, nem eu. Eu desisti. São todos uns canalhas...
Subitamente, o rapaz entrou na loja.
—Mais alguma coisa que eu posso fazer pelo senhor? — indagou o frentista.
—Eu gostaria de comprar o pássaro.
—Ele é do vovô. Pergunte a ele!
Com carinho, o neto acordou o velho.
—Vovô, esse senhor gostaria de comprar a “ave do paraíso”!
O velho bocejou e coçou os olhos como se estivesse dormindo a anos. Ele me olhou e disse.
-Ele só é bonitinho. Se pensa que pode ensinar algum truque, esquece!
—Ele fala?
—Você deve estar querendo um papagaio. Eu posso conseguir um que canta o hino do Corinthians.
—Eu quero esse.
—Mas não fala!
—Quanto custa?
—Cinco mil!
—É meu!
E assim foi. Pela primeira vez em toda a minha vida eu tinha um amigo de verdade. E pela primeira vez, eu passei alguém para trás.
—Onde já se viu. Cinco mil e eu comprei o mais inteligente dos animais. Um profeta talvez. A idéia do profeta trouxe um arrepio sobrenatural a minha espinha. Então, me virei para ele, que estava no banco ao meu lado e perguntei.
—Você fala em nome de Deus?
Em silêncio ele consentiu. Então fomos em silêncio a viagem toda. Talvez pelo estresse da viagem ele parou de falar, apenas respondia sim ou não com a cabeça. Por semanas o nosso relacionamento foi apenas por gestos. Ele não me disse mais uma palavra sequer. Porém, o jeito com que me olhava, era o suficiente para esclarecer todas as dúvidas e anseios de toda a minha vida. Até que cogitei a hipótese de o poder de fala dele, de alguma maneira estar atrelado ao velho do posto de combustível.
Eu havia jurado para a ave e para mim mesmo que jamais falaria com mais nenhum homem. Mas a situação necessitava uma medida enérgica, então, deixei a gaiola bem abastecida e voltei a loja.
Ainda da estrada, pude ver uma estranha movimentação no posto. Uma viatura da polícia e uma ambulância. A tranqüilidade dos paramédicos me assustou. Estacionei de qualquer jeito e corri até a loja.
—O que aconteceu? — perguntei ao Policial.
—O ventríloquo morreu!