Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
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segunda-feira, 26 de abril de 2010

A alma em evidência

Às vezes minh'alma conversa com minha cabeça. Não é raro que as duas se entendam, mas admito que a alma é quem manda nessa relação. A cabeça argumenta com a modernidade, a praticidade, o dinheiro, a beleza... Já a alma, mais contida, nem por isso menos poderosa, fala quando lhe é perguntado, quando há dúvidas, ou quando o medo e a insegurança entram em cena. Para descernir e decidir a máquina, que não tem vida própria, mas é vida quando regida pelas outras duas, opta por ouvir e agir baseada em uma delas. As decisões vão mudando ao longo do percurso, pois inúmeras vezes temos a impressão de que outra decisão poderia ter se traduzido em efeito mais positivo.
Quando tomo uma decisão absurda, que não faz sentido para os outros à volta, baseio-me no instinto, ouço somente a alma... Tenho a certeza do acerto, embora não compreenda a parte dentro do todo.
Muitas vezes não sei explicar o porquê da decisão que aparentemente me favorece menos ou não faz sentido em um mundo capitalista.
Em casos extremos, a cabeça, que certamente se acha a mais importante, nem entra em ação. Torno-me essencialmente animal, não racional, para defender a vida, a saga.
A saga sem o instinto, a alma, jamais será cumprida. Um dos grandes mistérios para o homem, seja ele moderno ou não, envolve a saga, que o moderno não admite, não ouve, pensa ser trilha de filme americano, nunca vive a sua...
Para onde vamos e de onde viemos? Viva a sua saga instintivamente, com todas as suas alegrias e tragédias, a resposta está ali, na alma respeitada, ouvida. A cabeça? Ela é só o chefe que carrega a alma!

Vitrine

Quando pequena minha família sofria de constantes crises financeiras, éramos sete irmãos, todos em posição de dependência dos pais. Meu pai viajava sempre a procura de melhorias para a família e nos ficávamos em casa com mamãe. As vezes ela me levava para passear, visitar uma prima que tinha loja de roupas no centro da pequena cidade onde morávamos. Eu ficava observando as vitrinas onde eram expostas lindas roupas. Em um desses passeios me enamorei de uma saia amarela, godê e prinçada, sem a menor possibilidade de possuí-la.
Em casa comentei com mamãe sobre aquela paixão, que tanto me incomodava, segundo ela nada poderia fazer por mim. Mesmo criança sabia da situação de meus pais, fato que me fez sofrer silenciosamente. Visitar a prima de mamãe virou meu passa-tempo preferido. Acredito que fissurada naquela saia nem percebia o quanto me fazia mal aquelas voltinhas pela cidade. Mudamos, o tempo passou, eu cresci, mas a imagem daquela saia jamais esqueci.


Hoje mamãe já morreu.
Não ficará sabendo que em minha vida existe uma saia.
Nem tão pouco quero que escutem-me os impuros:
mamãe foi mais breve em minha vida do que uma saia.
A saia e eu!
Moraremos na vitrina para sempre.
Ela exposta e eu fissurada nela.
Uma coisa temos que aceitar,
conseguimos façanha insuperável,
morar para sempre em um mesmo lugar.
Se não fosse minha infância paupérrima,
eu não teria como hospedes: uma vitrina,
uma saia godé,
amarela e prinçada.
Mamãe estava tão branca e fria,
não tive coragem de confessar que,
quase fui destruída por uma saia.
Almejada com tanta dor pela minha meninice!

domingo, 25 de abril de 2010

CArne DAda aos VERmes - Alvaro Freitas

Estamos transmitindo direto do vale do Anhangabaú, bem diante de uma entrada secundária do metrô onde uma coisa amanheceu hoje atrapalhando a passagem.
Por favor senhor. O que é aquilo lá no meio?
—É um carinha com um furo no peito!
Furo? Vamos ver isso mais de perto... Com licença, um passinho ao lado por favor... Estou quase lá... Ufa! Cheguei.
Minha senhora, por favor, chegue um pouquinho para trás para eu mostrar o furo para os nossos telespectadores.
—Que furo?
No peito do carinha!
—Carinha?
É, esse aí perto do seu pé!
—Nossa! Se fosse um bicho tinha me mordido. Eu estou esperando uma amiga. Nós vamos viajar.
Sério! Para onde?
—Praia Grande. Conhece?
Aquela que tem um aquário?
—Moço. Você está pisando no carinha do furo!
Deus do céu! Perdi o foco. Desculpe telespectadores. Por favor Zeca, dê um close no furo.
Esse furo nem é lá essas coisas, mas vamos ver se alguém sabe nos dizer algo.
Alguém aqui sabe o que aconteceu?
—Eu estava indo para o trabalho, quando vi uma coisa atrapalhando a passagem, então fui desviar e dei de cara com você perguntando se alguém...
Ok, ok, muito obrigado. Acabamos de ouvir um “não” dito por um Paulista.
E você, tem algo a nos dizer?
—Hã??
Agora ouvimos um “não” de um Mineiro.
Você com uma arma na mão! Saberia me dizer algo?
—Qual é? Não vem me acusando não! Alguém me ligou hoje, lá pela cinco da matina. Vê se isso é hora! O fulano disse que a minha mina tinha um caso com outro e que eles iam se encontrar aqui na estação. Ai eu peguei a arma e vim. Mas eu não fiz nada, nadinha. Quer saber? Tchau!
Bom, agora ouvimos um típico “não” dado por um corno. Será que ninguém por aqui sabe de nada?
Vamos ver o casalzinho apaixonado atrás da coluna. Com licença... Vocês poderiam parar com isso um pouco?... Moço, o senhor vai engolir a moça! Solta, solta, isso...
—Vai, fala logo, o que foi?
Você sabe algo do carinha com o furo no peito?
—Que saco! Eu acordei cedo pra caramba. Tive que dar um chapéu no mala do meu marido para vir encontrar com esse gato e você fica me perguntando do carinha! Tá bom. O que eu sei é que ele tava conversando com uma baranga com um vestido igual ao meu, então eu ouvi um “táh” e depois um “tum”.
Agora, caro telespectador, vocês ouviram um “não” dado por uma quenga. Quantas formas de dizer um ”não sei” podemos ter?
Você aí flutuando com a cara branca! Poderia nos dar o seu depoimento?
—A imagem está meio ruim. Eu não estou conseguindo acertar o foco no cidadão.
Faz a sua parte que eu faço a minha! Eu entrevisto e você filma. Entendeu ou quer que eu desenhe?
Desculpe. O senhor viu algo de estranho por aqui?
—Vi sim. Eu estava indo para a escola quando uma mulher com um vestido florido veio me pedir uma informação. Quando eu estava explicando, ela começou a se sentir mal, então eu a segurei e a ajudei a se sentar naquele banco. Então, um cara veio e gritou algo para mim, aí, a luz escureceu e voltou de repente. Quando me olhei, estava de camisola branca indo em direção àquela luz, foi ai que você me chamou.
Você viu o que aconteceu com o carinha do furo?
—Carinha, onde?
Puta-que-pariu!! Hoje eu perco meu emprego. Ninguém sabe de nada. Vai criatura. Vai seguir a tua luz que eu tenho que trabalhar.
Você ai!.. Ô vermelhinho!... Ô do chifre!... É, você mesmo! Você sabe de alguma coisa sobre o traste que está atrapalhando a entrada do metrô bem no horário de pico?
—Quem falou que fui eu? Foi o Pedro, não foi? Pescador fofoqueiro, puxa-saco!
Ninguém falou nada, eu só achei que o senhor...
—O pessoal me pinta mais feio do que sou. Se eu não tivesse oferecido a maçã, a vida de todos ia ser uma chateação. Passarinho, frutinha, aguinha fresca... Vai costela vem beldade. Todo mundo pelado, peitinho pra lá, bundinha pra cá. Foi melhor assim. Eu não me arrependo!
Meu! Você é louco! Dá para voltar ao assunto? Se não sabe, fala logo que eu vou entrevistar o Rabino lá da calçado.
—Tá bom, tá bom, eu conto. Mas não chama o Rabino. A vidinha dos dois estava um tédio. Beijinho. Amorzinho. Eca, que nojo! Então eu botei um temperinho e ela conheceu o boca doce.
Você está mudando de assunto!
—Tô não!
Jura?
—Sai pra lá. Não vem com ignorância. Deixa eu continuar.
Aquilo abanando aí atrás é um rabo?
—Fala pra ele parar de filmar a minha bunda senão eu vou embora!
Já paramos. Pode continuar.
—Ai, a coisa só piorou. Era xodozinho, fofurinha e amorzinho em casa e na rua. Depois o falso e traidor sou eu.
Foco!!
—ENTÃO, eu liguei pro boi e falei do encontro da tia com o bico dose. O cabra ficou do jeito que eu gosto. Pegou a pistola e saiu babando.
Quando o “coiso” furado entrar na conversa você me acorda?
—Cara chato dos infernos você!
Você que é! Quer saber? Eu te dou mais dez segundos, se você não terminar a história eu vou com o Rabino. Combinado?
—Feito! Ai a muié tava no lambe-lambe com o bico doce, o corno do revolver chegou, o carinha, ainda sem furo, passou, eu fui zoar e fiz a tia do vestido igual dar uma abraçadinha, o corno furou o furado, a vaca ficou no chup-chup e o resto você já sabe. Pronto. Falei!
Vá pro inferno! Não entendi nada!
—Vou mesmo!
Direto do Vale do Anhangabaú para o “De olho na Notícia”.

domingo, 18 de abril de 2010

A DERRADEIRA VIAGEM

A caminho do trabalho, Abigail avistou por entre as grades do grande portão, os velhinhos.
Um sentado sob uma árvore, outro num canto lendo um livro. E pelos semblantes, pode notar alguns perdidos nas lembranças, então pensou em visita-los.
No final de semana, comprou alguns biscoitos e foi para o asilo. Deixou com a encarregada e dirigiu-se ao pátio. Sentou-se e conversou um pouquinho com cada um. Alguns se mantinham calados, só respondendo o que perguntava. Outros gostavam de conversar e falavam sem parar.
Com uns ela ria, com outros se emocionava. Em um banco uma senhora loira fazia uma toalha de crochê e quando Abigail se aproximou, sorriu dizendo.
-Senta minha querida, estou fazendo essa toalha de encomenda para uma moça que mora aqui perto. Era mesmo um trabalho bonito e que agilidade nas mãos. Disse que com o dinheiro comprava presente para a sobrinha que de vez em quanto ia vê-la. Conversou mais um pouco até que olhando para um canto, aquele homem chamou sua atenção.
-Coitado do Aldo, está de novo no portão. Disse a mulher da toalha de crochê. Olhava apreensivo para a rua, como se estivesse esperando alguém. Então ela foi até lá e perguntou.
-Está gostando de apreciar o movimento? Distraido e com os olhos fixos na esquina, virou-se dizendo. -Não! Não estou apreciando o movimento, estou esperando meu filho. Ele disse que vinha me visitar no fim de semana. Abigail sentiu um aperto no coração. O coitado esperando o filho ingrato que não aparece.
-Vai ver, algum trabalho de última hora impediu de vir, mas tenho certeza que assim que der, virá. Com olhar incisivo e ar cansado, falou olhando para ela.
-As coisas para mim não fazem mais sentido. Trabalhei muito na vida para criar os filhos. Minha esposa foi uma mulher maravilhosa, dedicou-se a todos com muito amor e carinho. Um dia o filho mais velho foi com ela passear na casa da irmã e sofreram um acidente.
-Deus os levou de uma só vez. Fiquei só com meu filho mais novo. No começo foi dificil, a gente sentia muita falta deles. Um ano depois, meu filho se casou com uma moça que deixou claro que não queria ninguém morando junto. Tinha tanto espaço na minha casa, mas foram morar de aluguel bem distante. Sozinho dentro daquelas paredes, a solidão estava me aniquilando. Meu filho já não me visitava mais. Diante de tanta tristeza, comecei a não me alimentar direito. Fiquei doente e os vizinhos chamaram meu filho que resolveu a questão me colocando aqui e indo morar em minha casa.
-Confesso que desde que cheguei tenho me recuperado, as pessoas são muito boas. Todos gosta de mim. E hoje, exatamente hoje, dia dos pais, está fazendo quatro meses que não vejo meu filho.
Tenho esperado todo domingo! Mas ele não vem. Olhando para ela com a voz embargada concluiu.-Agora vejo que quando me trouxe para cá, era para que fosse a minha derradeira viagem. Ela escutou em silencio deixando o pobre velho desabafar. Enlaçou-o pelo braço dizendo.
-Vamos para dentro. Enquanto caminhavam, notou as lágrimas escorrendo por aquele rosto abatido. Deixou-o sentado na sala de estar e prometeu que sempre que pudesse vinha vê-lo.
Saiu do asilo pensando sobre aquelas pessoas. Que triste destino, abandonado pelos filhos.
Mesmo nas dificuldades um pai não abandona os filhos. E na velhice, quando mais precisa de amparo e de amor, os filhos colocam ele num asilo. E pior, nunca mais vão visita-los: não tem tempo para eles. E os pobrezinhos esperam pelo filho amado que nunca aparece.

JAF-Falcão Peregrino

Domingo não é o fim de semana

Escrevo porque é domingo. Domingo para ser bom tem que ser produtivo. Não aquele produtivo corporativo, mas um produtivo pessoal, algo pelo qual no final do dia você possa orgulhar-se de ter sido útil para você mesmo. Um elemento importante para isso é ter um plano. Isso mesmo, domingo bom é domingo planejado com antecedência. Vamos considerar algo simples como exemplo: um almoço com a família e alguns amigos. Os convidados devem ter sido contatados no mínimo com uma semana de antecedência e confirmados na véspera. O que será servido precisar estar definido pelo menos dois dias antes, no dia do almoço o esforço maior deve ser apenas o de montar os pratos; todos os ingredientes, as bebidas e a sobremesa já devem ter sido providenciadas.
O plano do domingo precisa ser cronológico. Quanto tempo você vai dedicar a leitura do jornal? E a preparação do almoço? Se for dormir à tarde, é bom programar um despertador. Cinema, teatro e museu têm hora certa para começar, devem ser escolhidos antecipadamente pelo jornal ou internet, e depois se faz um cronograma de trás para frente: primeiro calcule, considerando a probabilidade de fila, a que horas você deve estar na bilheteria; estime quanto tempo será necessário para chegar lá sem esquecer-se dos riscos de trânsito lento, possibilidades de vias obstruídas, e se for passar perto de algum estádio de futebol, o risco é dobrado; planeje quanto tempo será necessário preparando-se para sair, entre tomar banho, escolher a roupa, vestir-se, se você tiver uma companhia feminina, o tempo a ser considerado não é o seu, e sim o dela, uma sugestão é você terminar de ler o jornal enquanto ela se prepara.
Uma coisa importante é fugir da frente da TV. Se esse bicho te pega logo pela manhã, fica difícil escapar de suas garras durante o resto do domingo. Pior ainda é se você gostar da letargia embriagante provocada por este instrumento. Conheço pessoas que já não conseguem distinguir o domingo do próprio ato de assistir à TV. O domingo não deve ter nada que seja muito repetitivo, domingo bom é domingo autêntico, e por isso o planejamento é tão importante. Quando você se planeja, tem a oportunidade de pensar nas coisas que gosta de fazer e que está há mais tempo sem fazê-las. Não há nenhum problema em ver TV, o problema é deixar que a TV planeje o seu dia por você.
O Domingo não deveria ser considerado fim de semana. O fim da semana é no Sábado, Domingo é o recomeço, a festa de inauguração de uma semana nova. Mesmo que você esteja voltando de uma viagem depois de um feriado prolongado, não tenha em mente que isso é um fim, e que a semana começa no dia seguinte, na fatídica segunda-feira. A segunda-feira é apenas a continuação; o ato de voltar para casa após três dias no campo ou na praia, é de fato o início de uma nova jornada, assim como uma viagem não começa quando você chega ao destino, mas sim quando você se prepara para sair.
Para mim, a percepção que de que o final de semana na verdade é o fim de uma e o início de outra, muda completamente a importância destes dois dias maravilhosos. Não tenho mais aquela nostalgia de algo bom que está acabando, não é isso, é o primeiro dia da melhor parte da história que ainda quero contar sobre a minha vida.
Bom domingo para você!

domingo, 11 de abril de 2010

Skaz - Alvaro Freitas

Festa! Aquilo estava horrível como todas as festas costumam ser. De repente chega aquela criatura. Ele fica lá, plantado na entrada do salão como um idiota querendo dizer: “Olha gente, eu estou aqui!”. Ridículo. O pior não foi isso, todo mundo na festa parou e ficou olhando para ele como se nunca tivessem visto um cara grande com cérebro pequeno. Eu não dou a mínima! O que me aborreceu foi a Virgínia. Eu levei ela àquela festa horrorosa, estava lá agüentando toda aquela chatice, firme, do lado dela, e ela, ao primeiro babaca que chega, fica lá babando. Ainda, se o cara tivesse algum talento, vai lá... Mas não. Se usar camisa apertada fosse talento, ele até que poderia dizer que tem algum. De uma hora para outra, depois de babar muito, ela, cinicamente, se vira para mim e diz: “Eu conheço ele de algum lugar!” A Virgínia tem o costume de só porque teve um namorado retardado, achar que conhece todos. Ai, como se não tivesse outro lugar no universo para ir, o ostrogodo resolve vir em nossa direção. Maldita hora. Maldita festa. Maldita criatura. A tonta lá, olhando aquela coisa disforme desfilar. No que o babaca passa na nossa frente, olha para ela e diz: “Oi Virgínia!”. Oi Virgínia... Só podia ser um analfabeto mesmo. Não tinha nada melhor para dizer do que: “oi Virgínia”? Claro que não! Devia ter usado todo o vasto repertório naquela frase. E olha que a metade do repertório era uma monossílaba. Ela só faltou tirar a camisa e esfregar os peitos na cara do gorila. Foi ridículo! Ainda por cima, teve a coragem de sorrir e responder com o “oi” mais vulgar que eu já ouvi em toda a minha vida. “Vai lá e dá logo pro cara!” falei. Ela, nem me ouviu, também, para ela não tinha mais ninguém na festa, só faltava bater as asas e sair cacarejando atrás dele. Que humilhação! Como pode alguém se rebaixar a esse ponto? Eu conheço muito bem as mulheres, se eu tivesse dito alguma coisa, ela iria dizer que eu era um exagerado. Exagerado! Eu? Pena que não filmei aquele “oi”. Aquilo sim me daria um Oscar na categoria baixaria. Quer saber? Eu não vou é falar nada! Em compensação, não vá ela pensar que eu vou ficar feliz da vida ao lado dela. Eu não! Ela vai ter que aprender que mulher minha não fica galinhando por ai. Oi. Só me faltava essa!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

seu Barbosa e dona Roma – o celular - Alvaro Freitas


—ROMA, onde você colocou o meu celular?
—Eu lá vou saber onde você colocou aquele troço! Vê se não tá na máquina de lavar.
—Santa ignorância! O que o meu telefone ia estar fazendo na lavanderia?
—Quando você encontrar aquela porcaria, eu vou dar um jeito nele. Vou fazer o mesmo que fiz com o controle remoto da TV.
—Nem me fala do controle da TV. Que idéia idiota a de colar ele na mesinha da sala!
—Pelo menos não perdeu mais, não derrubou e nem sentou de novo nele.
—É, mais quando eu ponho os pés na mesa acabo sempre aumentando o volume.
—Por que você não assiste TV com os pés na lata de lixo? O cheiro vai ser o mesmo.
—Cala tua boca véia!
—Barbosa, corre aqui, tem um bicho no armário.
—Se vira! Eu tô ocupado.
—É sério. Ele tá no pacote de Sucrilho.
—Dá uma chinelada. Joga pela janela, mas não me enche o saco! Tô ligando pra ele.
—Barbosa...
—Mais que inferno! Eu tô tentando ouvir o celular.
—Eu achei.
—Cadê?
—Na privada.
—O que ele tá fazendo na privada no meio de um monte de sucrilhos?
—Sei lá... Tá decidido. Tira essa coisa daí que eu vou amarrar ele na estante, assim você não perde mais!
—E a mobilidade?
—Você deixou a porta da gaiola aberta e ela fugiu, lembra?
—Aquilo era a maritaca. Deixa de ser burra! Eu estou dizendo, quando eu sair, quem atende o celular?
—Eu atendo e anoto o recado!
—E se for confidencial, o mula?
—Eu anoto na língua do “P” para que o segredo não caia em mãos inimigas... P-já P-che P-gou P-a P-su P-a P-po P-ma P-di P-nha P-pa P-ra P-he P-mo P-rói P-da!