Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
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sexta-feira, 9 de março de 2012

A TRAGÉDIA NO JAPÃO

Esta semana completou um ano da tragédia que se abateu sobre os japoneses. Foram três fatos que culminaram com tudo que aconteceu. O tremor de terra com epicentro no mar que produziu a onda gigante e a usina nuclear afetada. Era previsto que poderia acontecer, mas ninguém esperava a intensidade e a força que teve o avanço da onda. De uma hora para outra, cidades foram engolidas pelas aguas. Carros, barcos, moradias e o sonho de muita gente foi levado pelo mar. Mas, o que mais impressionou, foi o exemplo que aquele povo deu ao mundo. Eles estavam com medo claro, mas não se viu ninguém desesperado, histérico, gritando, correndo sem saber para onde. Todos mostraram disciplina, paciencia e alto grau de solidariedade. E mesmo nas horas que faltou alimentos e água potável, esperaram com resignação em filas, a vez de receber sua porção. Alguns funcionários voluntariamente ficaram dentro da usina, recebendo altas dosagens de radiação. Eles não pensaram neles. Pensaram na possibilidade de ocorrer um desastre maior e afetar toda a população de Tóquio. Certamente vão morrer com doenças provocadas pelo excesso de radiação. Mas, isso mostra a nobreza desse povo. Doar a vida se preciso, para salvar os outros.
E se fosse aqui, seria assim?
Claro que não. Alguns, especialmente os politicos ou funcionários públicos, iam usar seu status,. para conseguir vantagens. Os caminhões com alimentos não chegariam ao seu destino, pois seriam saqueados. E os "espertos" iam furar fila e procurar tirar vantagens da situação.
O poder publico ainda estaria discutindo quais as cidades que seriam atendidas, primeiro.
Ai, evidente que entraria os interesses eleitoreiros. O povo ia ficar em abrigos.
Depois de um ano, a maioria ainda estaria acomodada ali, esperando por uma casa própria. Satisfeitos de ter cesta básica e bolsa família do governo.
Quando vejo um povo como o japones, enfrentando com dignidade as dificuldades que de uma hora para outra surgiu em suas vidas, percebo que temos muito o que aprender com eles.
Acredito que um dia teremos uma economia igual ou até superior a deles. Mas, não acredito que possamos nos tornar um povo solidário, educado e disciplinado como eles.
Mas, espero estar errado nessa minha conclusão. E voce! O que acha??????
Afonso Schneider - Falcão Peregrino

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Um conto de Natal - Alvaro Freitas


—Canário da terra macho!
—Desculpa... O que o senhor disse?
—Esse canto é de um canário da terra macho. Eles nascem em Minas, depois migram para essas bandas e só voltam para procriar na primavera.
—O senhor sabe de tudo isso só pelo canto? Eu nem ouvi!
—Eu observo muito. Modéstia a parte, tenho um ouvido e uma memória muito bons.
—O senhor é especialista em aves? Como se diz...
—Ford Corcel 1972, pneus Firestone meia vida. A correia tá na hora de trocar!
O garoto olhou para os lados para ver com quem ele estava falando. Mas além deles, naquela sala de espera, só tinha a secretária do delegado.
—O senhor falou comigo?
—Eu falei do carro que passou lá na rua e entrou na Praça Luiz Prestes sentido Marginal. Eu não consigo evitar!
—Só pelo barulho o senhor concluiu tudo isso?
—Pois é! É um dom que Deus me deu e eu aperfeiçôo a mais de 40 anos.
—Caramba!
—E não é só o meu ouvido não! Tá sentindo esse cheiro?
—Parece que é café.
—Três colheres de café Pilão e uma de Três Corações.
O rapaz ficou sem palavras, então o velho ajeitou o paletó xadrez, deu uma alinhada na gravata borboleta e continuou:
—Alguém colocou o resto de pó de Três Corações e completou com Pilão.
—Ou o contrário!
—JAMAIS! — vociferou. — O cheiro do Pilão é de que acabou de ser aberto, já o outro, tem cheiro de que foi aberto a quatro dias.
—Benza Deus! Isso sim é um dom!
Subitamente a porta da sala do delegado se abriu e um homem saiu apressado, deixando apenas um sinal de positivo para a secretária.
—Latrocínio!
—O senhor o conhece?
—Deus me livre!
—Então como é que...
—Calça larga, pisando mais forte com o pé direito. Até uma criança pode perceber que ele tem o costume de carregar uma pistola nove milímetros na bota.
—Mas ele nem estava de bota!
—Nem com a nove milímetros! Por isso ele tava mancando. Falta de costume de andar desarmado.
—E como o senhor sabe que é latrocínio?
—Saindo com essa pressa da sala do delegado. Claro que ele matou alguém. Aliás, eu investigaria muito bem a secretária. Você viu o olhar dela quando ele saiu?
No telefone a secretária disse:
—Doutor, o técnico acabou de sair. O senhor já pode usar seu computador. Inclusive, já têm duas testemunhas aguardando para o depoimento.
Sem graça, o velho olha para o rapaz e diz:
—Tá vendo? Mais um meliante que se safou. Belo disfarce!
Tentando dissimular a risada, o rapaz muda de assunto.
—O que o senhor vai testemunhar?
—Na noite de segunda, eu tava dormindo quando fui acordado por um tiro a um quarteirão da minha casa. Dois minutos e quarenta segundos depois passou um Chevette 82 com um homem gordo que dirigia sozinho e levava uma caixa grande com um disfarce dentro do porta-malas.
—“Péra” ai! Como o senhor viu tudo isso?
—Não vi. Nem saí da minha cama. Eu ouvi!
—Até o disfarce no porta-malas?
—Pois é!
—E então, o que o senhor fez?
—Vim aqui e contei tudo. No dia seguinte, a Polícia encontrou o carro e o disfarce, montaram uma emboscada e prenderam o vagabundo.
—E ele, confessou?
—No começo não. O safado insistia que o disfarce era para surpreender os filhos. Depois de passar a noite pendurado tomando choque, ele confessou.
Então o delegado chegou, falou com a secretária e entrou na sala.
—Senhor Barbosa, testemunha de acusação do caso do Papai Noel. Pode entrar.
Ele respirou fundo, arrumou o cabelo e a gravata, levantou e disse:
—É meu filho... É graças a homens como eu que esse país ainda é um lugar bom para se viver! Tenho um trabalho a terminar; com licença.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O que será - Chico Buarque

O Que Será

Composição : Chico Buarque
Comentários: Lívia Poli e Giovani Vieira 

O que será, que será?
(O QUE SERÁ DO PAÍS, AONDE SE CHEGARÁ COM TODA ESSA DITADURA, É UMA INCERTEZA )
Que andam suspirando pelas alcovas
(FALA DOS ENCONTROS, QUE GRUPOS DE PESSOAS, FAZIAM AS ESCONDIDAS PARA NÃO SOFREREM NENHUMA REPRESSÃO)
Que andam sussurrando em versos e trovas
(OS ARTISTAS USAVAM A MUSICA, A POESIA PARA SE COMUNICAREM E EXPRESSAREM SEUS PENSAMENTOS)
Que andam combinando no breu das tocas
(OS GRUPOS FAZIAM AGENDAMENTO DO ENCONTRO SECRETO)
Que anda nas cabeças anda nas bocas
(SÃO AS IDÉIAS REVOLUCIONÁRIAS QUE  TIVAM, EM BUSCA DE UMA DEMOCRACIA, DE UM PAÍS MELHOR)
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
(FALA DA VOZ DO POVO, DAS MANIFESTAÇÕES CONTRA A DITADURA, VINDO ATRAVÉS DOS CARTAZES, PICHAÇÕES)
Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho...
 (EXPRESSA A INCERTEZA DO PAÍS, DE COMO SERÁ O FUTURO SE CONTINUAR NAQUELA SITUAÇÃO OU SE TERÁ MUNDANÇAS)

O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes
(SÃO AMANTES DA LIBERDADE, DA DEMOCRACIA, PESSOAS QUE LUTAM PELA MUNDAÇA)
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
(FALA DO CANTO, DAS VOZES DOS ARTISTAS E DOS POETAS, SE EXPRESSANDO)
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
(FALA DO POVO SOFRIDO, DO POVO DESPROVIDO DE FELICIDADE, DE APOIO, LARGADOS AS TRAÇAS)
Em todos os sentidos...
(SEJA ELA NA REPRESSÃO, NOS MAUS TRATOS, NA VIOLÊNCIA E MUITAS VEZES LEVANDO-OS A MORTE)


Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
(FALA DA IMORALIDADE / INDECÊNCIA DO MILITARISMO)
O que não tem censura nem nunca terá
(SÃO AS MANIFESTAÇÕES, OS PENSAMENTOS DE QUEM IA CONTRA A DITADURA E SOFRIAM SUAS REPRESSÕES)
O que não faz sentido...
( O PLANO DE GOVERNO NÃO FAZIA SENTIDO PARA MUITOS, NÃO IA TRAZER MELHORIAS, DEIXAR AS PESSOAS FELIZES)

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
(AVISOS= AMEAÇAS DOS MILITARES / EVITAR= REPRIMIR AS MANIFESTAÇÕES)
Por que todos os risos vão desafiar
(RISOS= ESPERANÇA, O IDEALISMO POLÍTICO)
Por que todos os sinos irão repicar
(O POVO UNIDO , A  NAS RUAS)
Por que todos os hinos irão consagrar
(É O NACIONALISMO – OS GRITOS DE GUERRA, COMO ABAIXO A DITADURA........,POVO NO PODER........)
E todos os meninos vão desembestar
(MENINOS= POVO EM BUSCA DA DEMOCRACIA, NA QUAL A MAIOR PARTE ERAM PESSOAS JOVENS, ALUNOS)
E todos os destinos irão se encontrar
(IGUALDADE SOCIAL)
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
(O INFERNO FALA DA GUERRA CIVIL, DEVIDO A DITADURA, COMO DEUS ABENÇOARIA AQUELA GUERRA QUE O MILITARISMO ESTA APLICANDO, MAS HÁ A GUERRA PELO LADO DOS MANIFESTANTES PARA ACABARM COM A DITADURA, ESSA SIM, DEUS IRIA ABENÇÕAR PARA VER UM POVO MAIS FELIZ)
O que não tem governo nem nunca terá
(FALA DA ANARQUIA)
O que não tem vergonha nem nunca terá
(QUE É A VERGONHA DA DITADURA)
O que não tem juízo...(2x)
(QUE É ENFRENTAR OS MILITARES, QUE NA ÉPOCA ERA VISTO COMO LOUCURA, ENQUANTO OS MILITARES ESTAVAM FORTEMENTE ARMADOS, O POVO TINHA COMO SUA ARMA MAIS FORTE A BANDEIRA)
(JUIZO= LUTAR SEM MEDIR AS CONSEQUÊNCIAS)

domingo, 27 de março de 2011

POR QUE SOMOS ASSIM

Com a respiração ofegante e um olhar triste; desse jeito que foi encontrada na mata. Era quase uma recem-nascida e tinha sido abandonada. Pouca coisa restou das lembranças da mãe. Não é comum uma onça abandonar seu filhote dessa forma. Mas, a destruição do meio ambiente e a ocupação desordenada, vem causando esses problemas. Uma onça precisa de uma área de aproximadamente 10 km para pode alimentar seus filhos. No entanto, os espaços estão se tornando cada vez menores, dificultando a sobrevivencia desses predadores. Ela foi encontrada perto de uma àrea de proteção ambiental na mata atlantica. Está em um parque onde a bióloga Marina se dedica como se cuidasse de uma filha. Dando carinho alimento, proteção e um lar para ela. Ganhou o nome de Vitória e já é uma adolescente alegre e brincalhona, mas seu futuro é incerto. Não pode ser preparada para retornar ao seu habitat. Como foi abandonada muito jovem, não recebeu de sua mãe os ensinamentos para sobreviver na mata. Por isso não teria nenhuma chance e seu tempo de vida seria reduzido. Quando cheguei ali encontrei ela magnifica, altiva, com a cabeça erguida e o olhar no horizonte. trepada naquela arvore parecia uma rainha, seu pêlo colorido brilhava e dava um porte majestoso. Um belo animal e muito bem cuidado, pensei. Olhando demoradamente para ela, senti um aperto no peito e meu coração se encheu de tristeza. Fiquei imaginado que aquele galho de árvore e menos de cem metros quadrados em volta, era o mundo que lhe restava. Foi tudo que deixamos para esse exemplar de uma especie em extinção. Por que fizemos isso? Por que os racionais cometem tantas irracionalidades? As populações de pessoas crescem sem controle, ocupando o espaço que antes era dos animais. E as vezes me pergunto de quem é a culpa? A resposta é obvia. Todos somos culpados. Desde criança somos ensinados a nos manter longe dos predadores pois eles são perigosos. Crescemos com medo deles. Não nos ensinaram a respeitar sua forma de vida e preservar seu habitat. No entanto, onças, lobos, tigres e todos os predadores, precisam ter seu espaço protegido. Não devemos ver como o inimigo a ser destruido. Assim como nos, são uma criação de Deus e a natureza precisa deles. São os responsaveis pelo equilibrio ecológico. Sem eles as populações de animais que trazem doenças aumentam de forma descontrolada e todos nos pagamos por isso. Então vamos evitar que mais animais sejam abandonados e vivam o mesmo drama de nossa querida onça Vitória, que esperamos não seja mais uma destruida pela nossa insanidade.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Chiaroscuro


Seis da manhã com a barriga na pia molhada, ele não pôde resistir e provou uma colherada do feijão gelado que cuidadosamente usava para abastecer a velha marmita amassada. — Há!! se inventassem alguma coisa que impedisse o meu feijão de azedar até a hora do almoço... — Com a dedicação e o carinho de uma mãe que prepara o almoço do filho, o pobre trabalhador se preparava para mais uma jornada.
—Bom dia seu Zé!
—Bom dia senhora. — Respondeu esboçando um sorriso tímido ao chão que a vizinha pisava.
—Dá tchau pro moço! — O menino parecia saber algo que a mãe ignorava. Abraçou o pescoço da mulher e escondeu o rosto.
—Esse menino é tão caipira!
Seu Zé curtia seus últimos instantes de visibilidade. Sabia que ao vestir aquele macacão alaranjado algo como uma mágica aconteceria. Como Harry Potter em sua capa de invisibilidade, ele, sua vassoura e sua pá deixariam de ser vistos por olhos humanos. A magia só não era completa pelo fato das pessoas desviarem dele, dando sinal de perceber sua existência. Essa percepção não era importante o suficiente para tirar um sorriso ou um — bom dia — de ninguém. Mas isso não importa. Vinte anos nessa vida era suficiente para fazer qualquer um se acostumar. — Esse macacão é para mim, como o insul-filme para os tubarões que aguardam o farol abrir.
Entre uma sujeira e outra que pernoitaram a sua espera no meio fio e um copo de papel sujo que lhe saltou à frente quase lhe acertando a perna, seu Zé fazia seu trabalho. Por força da profissão, seu horizonte se limitava a um metro de calçada a sua volta, como se aquele fosse o seu reino, o seu império. De repente, uma poça de água refletiu as pernas bronzeadas de alguma garota. De imediato, o coração do pobre trabalhador disparou. Sua respiração acelerou e tomando de todas as suas forças, o nosso herói largou a vassoura e deu alguns passos apressados em direção ao muro. — Maravilhoso o poder que esse uniforme me concede! Isso teria sido constrangedor se alguém tivesse visto!
As vozes foram diminuindo, outras diferentes vieram. Aparentemente o perigo havia passado. Seu Zé tirou os olhos do muro, analisou cuidadosamente seu universo e pegou a vassoura que havia largado na sarjeta. O surrado crucifixo pôde voltar em paz para o bolso.
Ao retornar o seu trabalho, notou novamente a poça. Dessa vez, parecia inofensiva, salvo o cigarro meio fumado que boiava em um canto. Ele se abaixou, tomou a bituca nas mãos e a examinou como que investigando um crime hediondo. Ela ainda parecia quente, devia ter sido jogada naquela hora. A marca denunciava o batom carmim da sua dona.
—Só pode ter sido deixado por aquela vagabunda, aquela... — Antes de continuar a frase, a guimba lançada ao meio da rua deu lugar ao crucifixo que voltou apressado do seu bolso, como um bombeiro a acudir a um chamado de incêndio. Com toda a fé do mundo, seu Zé, o beijou três vezes e se prostrou de joelhos diante da multidão que passava.
Visível o suficiente para não ser pisado e invisível o suficiente para não incomodar os pedestres da Paulista, o nosso translúcido nordestino aproveitou para fazer o almoço. A marmita vazando e a comida fedendo não o surpreendiam mais. Aquele banquete em frente ao MASP era um privilégio de poucos.
—Nada dignifica mais um homem do que um bom e rotineiro dia de trabalho!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Grande + Pequeno = Médio - Alvaro Freitas

Era uma vez uma pequena que deparou com um grande.
Os olhos grandes vasculharam a pequena.
Os pequenos, fingiram não ver.
A boca grande deu um pequeno sorriso.
O pequeno rosto devolveu um rubor.
O grande aproximou e o pequeno acanhou.
O pequeno olhar tocou o grande sorriso.
A grande mão tocou o pequeno rosto.
O pequeno lábio tocou a grande boca.
A pequena chama em grande incêndio se tornou.
O grande corpo ao pequeno grudou.
Os pequenos braços, ao grande dorso juntou.
A grande mão, o pequeno corpo explorou.
A pequena mão, na grande cara estalou.
Uma pequena lágrima, de um grande olho verteu.
As pequenas costas, ao grande se viraram.

Então, o que era grande ficou pequeno.
E o que era pequeno ficou grande.
Um pequeno tapa, uma grande dor.
Um pequeno instante, uma grande eternidade.
Uma pequena lágrima, uma grande tristeza.
Um grande joelho, um pequeno chão.
Uma pequena mão, um grande ombro.
Dois grandes desejos de recomeçar.
Um pequeno abraço, um grande beijo.
Dois pequenos corpos, uma grande paixão.
Uma pequena cama, um grande amor.
Uma pequena semente, um grande ventre.
Um pequeno menino uma grande esperança.

Os sonhos — os do pai.
As chances — as da mãe.
A vontade — a do pai.
A recompensa — a da mãe.
O trabalho — o do pai.
O salário — o da mãe.
O desespero — o do pai.
A esperança — a da mãe.

O viaduto era grande,
os carros, pequenos.
A coragem, pequena;
a derrota, grande.
A fé era pequena,
a velocidade era grande.
O tempo foi pequeno,
o arrependimento foi gigante.
A vida foi pequena e a lição...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

PARA MOTORISTA!! MINHA AMIGA FICOU.

Nos olhos verdes e pele clara, a descendencia alemã do sul de Rita. Morena nordestina, olhos castanhos escuros é Alda que veio da Paraíba. Já passaram dos cinquenta anos, vivem a muito tempo em São Paulo e se tornaram grandes amigas. Cada uma do seu jeito.
Alda compra quase tudo que vê e adora ser fotografada. Rita é mais reservada e seletiva.
Foi em Canoa Quebrada que conversei com elas pela primeira vez. Estava passeando em Fortaleza e chegamos no mesmo voo fretado que partiu de São Paulo.
Almoçamos e comentei que ia criar meu proprio roteiro para o dia seguinte e que havia cancelado o passeio programado.
-Vou ao mercado comprar algumas coisas e depois pretendo pegar um onibus circular para conhecer um pouco do povo e da cidade. Percebi o interesse nos olhos delas e também resolveram cancelar o passeio previsto e me acompanhar.
No dia seguinte, após o café fomos para o mercado de artesanatos que fica no centro da cidade, ao lado da catedral. Acompanhei-as nas compras e percebi que Alda so comprava se Rita aprovasse.
Fiz minhas compras, almoçamos e pegamos o grande circular que dá a volta em toda cidade.
Sentei-me no lado da janela, fui apreciando a paisagem, tirando fotos e convivendo com aquela população de quase 3 milhões de habitantes.
Depois de passar por mais de três terminais, tivemos que descer no de Messajana para trocar de onibus. E pegamos uma grande fila. Como estava a frente, subi e sentei-me.
Alda veio logo atrás e pediu para Rita tirar uma foto subindo no onibus.
Entrou, virou-se e fez pose. As pessoas se afastaram e Rita tirou a foto. Nesse instante, o motorista olhando pelo retrovissor e vendo que ninguém mais subia, fechou a porta e foi embora.
Deixou Rita e os outros passageiros. Formou-se uma grande algazarra dentro do onibus. Olhei para trás e vi Rita correndo, gritando e gesticulando ainda com a maquina na mão.
Dentro a confusão era geral. Alda gritava. -Pára motorista, minha amiga ficou!
Os passageiros também gritavam. -Motorista a mulher ficou, paaara!
No meio de tanta gritaria, olhando pelo retrovisor ele parou. Percebendo que ela não havia desistido, abriu a porta e ficou esperando.
Rita entrou no onibus com respiração ofegante e rosto vermelho. Não sei se era do esforço ou de vergonha. Os que estavam no ponto, talvez não acreditando que ele fosse parar, não correram junto com ela.
Ele então fechou a porta e foi embora.
Durante o restante do trajeto, o assunto era elas.
Quando descemos proximo ao hotel, ainda pude ouvir alguém dizer de dentro do onibus.
-Eita!! Essas mulhé vem de São Paulo fazer lambança aqui na nossa cidade.
Fomos para o hotel se matando de rir e Rita ainda comentou.
-Acho que o povo que perdeu o onibus deve estar me xingando até agora.
Isso fez a gente rir mais ainda de lembrar a cena.
O pessoal da excursão ficou sabendo e elas tinha que ouvir de vez em quanto.
-Páraaa motorista!!! Minha amiga ficou.

Jaf Falcão Peregrino