Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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sábado, 12 de junho de 2010

A Andorinha - Alvaro Freitas

Oh tão perdida andorinha!
Que numa tarde gelada,
Por uma janela quebrada,
No escritório adentrou.

Quisera ser como eu!
Que num passado distante,
Em uma caçada errante,
Pelo umbral internou.

Oh tão ligeira andorinha!
Por entre setores diversos,
De chefes tão adversos.
Em poucos segundos passou.

Quisera ser como eu!
Ouvir, calar, engolir,
Inclusive, de tudo sorrir.
Teria ficado bem mais.

Oh tão astuta andorinha!
Que por todos convidada,
A partir em retirada,
Mas a ninguém se entregou.

Quisera ser como eu!
Apesar de enxotado,
Muitas vezes humilhado,
Nunca o posto entregou.

Oh tão ofegante andorinha!
Voando de lá para cá.
Deixou-se por fim apanhar,
Pelas garras da opressão.

Quisera ser como eu!
Fôlego das entranhas tirado,
Sem nunca parecer cansado,
Nem tampouco se entregar.

Oh tão derrotada andorinha!
Que das mãos do opressor,
Foi exposta sem louvor,
E pela janela atirada.

Quisera ser como eu!
Que sem conhecer o destino,
Nem tão pouco o assassino,
Ignoro a janela a porvir.

Oh tão livre andorinha!
A voar sem atropelo,
Nem lembrar do pesadelo,
Que um dia afrontou.

Quisera ser como eu!
E ainda no pesadelo estar,
Para quiçá um dia acordar,
E ver que a vida lá perdeu.

Oh tão invejada andorinha!
Se um dia ler esses versos,
Leia pelos anversos,
E perdoe a ignorância minha.

Se lhe servir de consolo,
Saiba que esse mesmo tolo,
Já se encontra bem cansado,
E num cantinho acuado,
Aguardando uma boa alma,
Pra da janela também me atirar,
E quem sabe poder te encontrar,
Na viagem a caminho do sol.

Um comentário:

  1. Alvaro,
    um texto profundo que demonstra um sentimento compartilhado por muitos.

    Abraços,

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