Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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quarta-feira, 23 de junho de 2010

A Maldição de Barbosa

Ah! Nada como sentir essa brisa que vem do mar.
Ele estava sentado num banco do jardim da praia, distraido olhando para o mar e apreciando as crianças brincar na água. De repente ela surgiu trazendo o menino pela mão. Parou à frente dele e com voz grave e olhar de acusação disse.
-Filho! Este homem fez o Brasil inteiro chorar de tristeza.
Ele demorou alguns segundos para perceber que era com ele. Virou o rosto e olhou para ela que continuava com aquele olhar duro, de reprovação. Engoliu em seco e seu olhar de desanimo mostrava a amargura em seu coração. Preferiu o silencio, pois sabia que qualquer coisa que dissesse não ia mudar o pensamento dela. Ele era culpado e pronto!
A criança olhou para ele e depois para ela sem entender nada. Ela não se compadeceu e do mesmo jeito que chegou, saiu conduzindo seu filho.
Aquilo se tornara comum em sua vida. Por mais distante que fosse, não havia como fugir.
-Nunca vou conseguir me livrar disso. Parece que carrego uma maldição. Ele chorava em silêncio e um sentimento de revolta dominou seu corpo: sentiu vontade de gritar para o mundo.
-Eu não joguei sozinhooooooo. Havia mais dez além de mimmm.
Mas, sabia que não adiantava. Tinha sido julgado e condenado pela derrota do Brasil em 1950 e só a morte ia conseguir libertá-lo disso.
Com os cotovelos apoiados nos joelhos, colocou as duas mãos na cabeça. Era como se quizesse tirar tudo aquilo da mente, enquanto as lagrimas escorriam pelo rosto.
-Por que cometem essa injustiça comigo?
Eu era apenas mais um defensor daquela seleção. Ninguém lembra dos outros dez, somente eu sou lembrado. Um individuo mata outro, é julgado e condenado a 30 anos de cadeia. Depois desse tempo está livre e pagou pelo seu erro. Eu não!
Já se passaram mais de 50 anos e eu continuo pagando por um crime que não cometi.
-Perdemos, eu sei. Mas, e daí?
Já perdemos tantas outras copas por erros de jogador ou de técnico, mas ninguém lembra mais disso. Por que não esquecem de mim? Sai do Rio de Janeiro por que não aguentava mais. Vim morar aqui na Praia grande, onde pensei que encontraria a paz, mas não.
E a imprensa então! Toda vez que o Brasil joga com o Uruguai sou lembrado, não pelas defesas que fiz, mas por um gol que tomei. Um gol normal, indefensavel para qualquer goleiro. Menos para mim. E valorizam o atacante uruguaio que fez o gol. Ele sim foi nosso carrasco, não eu.
Depois de ouvir as palavras duras daquela mulher, Barbosa perdeu a vontade de ficar ali. Mais uma vez, alguém tinha estragado seu dia. O pior era o olhar daquela criança, que vai crescer e será mais um para condena-lo. A idade também já pesava em seus ombros e saiu caminhando devagar de volta para casa, pensando. Pelo menos lá não tem ninguém para me condenar, pois moro sozinho.
Um dia Barbosa foi retirado de nosso convivio, mas não se libertou. Mesmo morto, ainda paga pela perda do titulo. Foi um injustiçado, por isso devemos pelo menos reverenciar a memória do cidadão. Uma pessoa correta, amigo de todos e acima de tudo um homem integro. E que mesmo sendo agredido, nunca revidou os ataques contra ele. Acho que já passou da hora de apagar esse estigma da vida de Barbosa e lembrar somente do grande homem que foi.
É muito facil julgar os outros e acusa-los de erros. O dificil é criar consciência que essa atitude lembrada sempre, não trouxe nenhum beneficio para os brasileiros, mas conseguiu destruir a vida desse pobre cidadão chamado Barbosa.
JAF-Falcão Peregrino

Um comentário:

  1. Caro Falcão Peregrino, seu texto é muito apropriado para o momento; quantas pessoas são condenadas diariamente pela sociedade sem nenhuma chance de se defenderem e sem prazo determinado para cumprirem suas penas!
    Abs.

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