Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
________________________________________________________________________

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O SORRISO DE PELÉ

Aquela era uma manhã ensolarada de 1963. Havia chegado a poucos dias e estava morando num sobrado da rua José de Alencar, atras do campo do Santos. Saí para caminhar e depois de algum tempo resolvi cortar o cabelo. Ao percorrer a rua Princesa Izabel, passando em frente ao estádio, vi uma placa de barbearia, ao lado do bar que fica na esquina. Na frente um ponto de taxi, onde alguns motoristas jogavam dama em um banco de madeira para passar o tempo.
Entrei e uma pessoa estava terminando de cortar o cabelo.
Logo que saiu o barbeiro olhou para mim como dizendo. -Você é o próximo.
Ocupei a cadeira e em silencio ele começou a cortar meu cabelo.
Não havia se passado muito tempo, quando percebi uma agitação e os motoristas se dirigindo a um jovem que acabara de chegar.
Um deles quase obrigou o rapaz a sentar naquele banco para jogar dama. Mas, ele entrou na barbearia e cumprimentou com um sorriso. Olhou para o barbeiro dizendo.
-Quando chegar minha vez avisa. Ele quer perder de novo.
O motorista sentado no banco, colocando as peças no lugar chamava.
-Vem Pelé? Vamos jogar que hoje vou ganhar.
Ouvindo aquele nome, olhei para o jovem. O rapaz sorridente era Pelé.
Naquela epoca não havia ainda televisão em minha região. Então ouvia pelo radio os jogos do Santos e ele sempre pareceu um gigante. Mas, ali de chinelos e bermudas, não tinha nada de diferente dos outros jovens. Sorrindo e brincando com os motoristas, não parecia nem de longe o atleta consagrado. Já havia participado de duas copas do mundo e era considerado o maior jogador do momento. Mas, em minha frente era somente um garoto risonho, brincando sem nenhuma ostentação.
A partida terminou na mesma hora que o meu corte de cabelo. Pelé ganhou e seu oponente não se conformava. Pediu que depois de cortar o cabelo sentasse para jogar de novo. Enquanto eu saía da cadeira, ele se aproximou e ainda sorrindo disse.
-Tanta insistencia para perder de novo, parece até o Corinthians, não ganha uma de mim.
Cedi o lugar na cadeira também sorrindo e olhei na direção do motorista que aguardava ansioso para jogar novamente. Sai dali imaginando que seria novamente derrotado.
Aquela foi a primeira vez que vi Pelé. Desde esse dia, sempre que possivel acompanhava os treinos do Santos. Assistia a quase todos os jogos e ficava encantado com aquela máquina fantástica de jogar bola comandada por ele.
O tempo passou, ele foi para o Cosmos, nos Estados Unidos e um dia deixou de jogar futebol.
Nunca mais vi Pelé, mas ele nunca perdeu o contato com o Santos.
Nesse ano de 2010, aconteceu mudança de diretoria e conseguiram trazer Robinho, de volta por empréstimo. O estádio estava lotado quando ele chegou de helicóptero. Desceu e foi conduzido por Pelé até o palco armado no estádio, para apresentar a torcida.
Naquele momento Robinho era o rei, alvo das atenções. Os jornalistas queriam ouvir o que tinha para dizer. Mas, no meio daquela gente, pude percebe aquele mesmo Pelé.
Em sua simplicidade, conversava com todos e sorria alegremente.
Mais velho como todos nós, mais ainda conservando aquele mesmo sorriso de menino, dos tempos do futebol arte que ele foi rei.

Jafortes - Falcão Peregrino

Um comentário: