Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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domingo, 16 de maio de 2010

Era uma vez... - Alvaro Freitas

Era uma vez, em um reino muito distante. No tempo em que os Dragões eram raros e viviam às margens da sociedade, escondidos nas trevas e sozinhos com o seu destino. No morro mais alto, cercado pela floresta mais sombria e infestada pelas criaturas mais assustadoras, jazia o Castelo dos Gemidos. Por séculos, tudo o que se sabia sobre aquele castelo não passava de lendas e superstições. Nenhuma história que fosse digna de ser considerada verdadeira era contada sobre os arredores da Floresta dos Mortos, onde ficava o castelo. Porém, nos últimos dias uma notícia repercutiu no vilarejo como fogo na palha. A notícia de que a Princesa Daiu, do reino de Booksfield estava na torre mais alta do castelo.
—Booksfield? Princesa Daiu? Onde fica isso?
—Eu vou embora e você vai ter que dormir sem história.
—Foi mal! Manda bala...
Logo a história chegou aos ouvidos do Príncipe. Sabendo que o reino dele era o mais próximo do Castelo dos Gemidos, sentiu-se na obrigação de ir até lá.
—Eu preciso da minha armadura e de minha espada. Escolha também o melhor cavalo do reino.
—Mas senhor!? Dizem que um enorme dragão vive naquele castelo e ninguém nunca voltou de lá para contar exatamente como ele é, exceto...
—Exceto quem?
—Ninguém. Deixa para lá.
Com a força de um único braço, o Príncipe ergueu seu fiel súdito quase até o teto.
—Diga logo bastardo. Quem conheceu o castelo e sobreviveu?
—O Juca Louco. Mas ele não é confiável, senhor.
—Pois selem mais um cavalo e ordenem a esse plebeu que me acompanhe.
Logo pela manhã, o destemido Príncipe, acompanhado pelo fanfarrão da vila, partiram para a vossa aventura. Cavalgaram o dia inteiro por entre árvores secas e petrificadas e pântanos assombrados. Parecia que sob cada rocha, havia um par de olhos a espreitar, aguardando a chegada da noite para atacar.
—Sir Juca. Conte-me tudo que sabe sobre o castelo.
—Eu sei muito pouco senhor. As pessoas na vila aumentam as minhas histórias.
—Então me conte o que sabe!
—O tempo em que os dragões povoavam a terra acabou a muitas gerações, porém, eles haviam construído um imponente castelo nessa floresta, em um local tão difícil e perigoso que até então, ninguém jamais ousou perturbar.
—E o dragão, ele existe mesmo?
—Existe! Ele é o último da sua espécie.
—E o que aquela idiota de cabelinho vermelho foi fazer lá?
—Mulher adora aparecer. Deve ter ido lá para fazer alguma maldade pro bichinho.
—Nós temos que chegar o quanto antes e salvar aquela pobre criatura das garras daquela besta de olhos verdes.
Assim os nossos heróis continuaram cavalgando. Durante o dia sob o escaldante sol, e durante a noite sob os olhares ameaçadores das feras.
—Maldita seja a lerdeza desse Príncipe. Há quase uma semana que eu o espero. Já estou fedendo a dragão. O povoado todo já sabe sobre a “Princesinha” na torre do castelo com o dragão e o Príncipe, vai saber, deve ter virado sapo por aí. Se demorar mais um dia, eu pego o meu dragão e vou atrás de outro ricaço.
A situação estava se agravando no castelo. A Princesa era capaz de tudo para conseguir poder, fama e dinheiro. O dragão temia pela sua própria vida.
—Eu vivo nesse castelo por mais de trezentos anos. Tenho me mantido afastado de encrencas desde então. O máximo que eu faço é emitir alguns ruídos durante a noite para afugentar curiosos. Eu tenho que quebrar esse paradigma de que dragão é mau, come campesinos, solta fogo pelas ventas. Caramba! Uma vez que me queixei da gastrite, associaram queimação no estômago com uma arma letal. Quando o ser humano vai aprender o que é metáfora?
—Para de resmungar jacaré! Eu tenho que ouvir quando o Príncipe chegar.
—Eu não vou deixar você fazer mal algum ao Príncipe. Eu o defenderei com minha própria vida se for preciso.
—Cala boca “Tic-tac”. Mais cedo ou mais tarde uma megera iria fisgar o coraçãozinho do tonto e torrar todo o seu dinheirinho. Que seja eu. Vai ensaiando a cara de mau.
Enquanto o clima esquentava no castelo. Sem saber do perigo que o esperava, os nossos heróis se aproximavam, armados e prontos para qualquer tipo de assalto, menos o velho e eficiente golpe da barriga.
—Opa! Espera aí! Tem criança no recinto! Se a história ficar picante eu chamo a mãe.
—Pivete desgraçado. Eu fico aqui contando historinha para o irmão dormir e ainda levo bronca. Pega leve!
—Anda logo! Ai o Príncipe chega ao castelo e...
E percebeu a batalha de morte entre a Princesa e o dragão. De um lado, a Princesa com uma espada, do outro o dragão com uma cadeira.
—Estranho! Não era essa cena que eu imaginava.
Ao perceber a presença do Príncipe, a luta tomou outra dimensão. E o dragão começou a agitar a sua enorme cabeça com a Princesa entre os dentes.
—Príncipe, pega a Princesa enquanto eu cuido do dragão. — Comandou o escudeiro.
Em uma ação orquestrada, a Princesa foi arrancada da boca da fera. Enquanto o Príncipe esmurrava a cara da Princesa, o Juca Loco oferecia água ao dragão para tirar o mau gosto da boca.
—MANHÊ! O Pedro tá zoando com a história!
—Tô não mãe! Esse moleque que é um bitolado.
—Quietos vocês dois. Termina logo essa história e já para a cama!
Enquanto o Príncipe e a Princesa rolavam no chão. O Juca Louco agarrou o dragão pelo braço e saíram em disparada, se assegurando de ter deixado as portas do castelo bem trancadas.
Por muitos anos, os habitantes dos dois povos choraram a perda dos seus entes queridos, que desde a trágica batalha, jamais foram vistos.
—E o Juca e o dragão?
—O Juca arrumou um disfarce para o dragão e passaram a viver no vilarejo.
—Ninguém percebeu o disfarce?
—Perceber, perceberam, mas se começassem a tirar as máscaras de todo mundo, seria pior para todos.
-E aí?
Viveram felizes para sempre. FIM. 

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