Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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domingo, 23 de maio de 2010

O Corvo - Alvaro Freitas (releitura de Edgar Allan Poe)

Numa noite silenciosa e fria.
Acolhido pela chama que ardia.
Embebido com todo o meu fervor,
Nas páginas de um livro sem humor.
Esperando que as laudas aborridas que passassem,
As saudades de Lenora carregassem,
Para com Orfeu repousar em paz.

Quando as letras finalmente emergiram.
Substituindo os prantos que caíram,
Um ruído a porta me fez voltar,
E dos braços de Orfeu me fez saltar.
“Oh meu Deus, será um intruso?”
Ou será meu sentimento confuso?
Certamente uma visita, e nada mais!

Recompondo meus cabelos em desalinho.
E procurando meu roupão em um cantinho.
Respirava, tentando me acalmar.
Quem ousaria a essas horas me acordar?
Se não fosse pelo sentimento que me apavora.
Mandaria logo o forasteiro embora,
E não largaria meus sonhos jamais.

Senhor, ou senhora talvez,
Que da minha porta seu caminho se fez.
Queira aguardar com paciência um segundo,
Para que esse homem que repousava profundo.
Possa lhe a entrada, então franquear.
E com mais tempo poder me explicar.
Que se trata de um amigo, e nada mais.

Quando a porta finalmente se abriu.
O negrume da noite surgiu.
Nem um piu, nem a voz, nem um rosto.
Nada aguardava em seu posto.
Teria sido a alma de Lenora.
Vinda do céu que agora,
Faz seu porto de descanso e de paz?

Antes pois de voltar ao meu leito,
Fiquei mais um estante em espreito,
O suficiente para ver um estranho adentrar.
Grande e negro flutuando no ar.
Meu coração num súbito disparou,
Até que por fim o intruso na cadeira parou.
Tratava-se de um Corvo, e nada mais.

De tão mau agouro, o que vindes fazer?
Talvez um prenuncio de morte trazer.
Quem sabe o diabo de lá te mandou,
Pra trazer o que ele julgou,
Ser a pena desse pobre que passa,
Sua vida num mundo sem graça,
Aguardando a morte, e nada mais.

Ou quem sabe foi Deus quem mandou.
Que anunciasse a alguém que amou,
A mensagem de fé e de paz.
Para um ser que já sofreu demais.
Di-me, Corvo que me fita,
Vens por minha alma aflita,
Ou anseias algo mais?

Para o meu total espanto,
Fazendo engolir o amargo pranto.
Aquele animal de agouro,
Olhou-me como Cristão ao Mouro.
Então, crendo poder saber,
O seu nome quis eu conhecer.
O Corvo assim respondeu, “Nevermore.”

Di-me então, Nevermore!
De tantos amigos que tinha de cor.
Muitos que no Céu já hão de estar,
Irei eu, esta noite encontrar?
Com fé e angustia aguardei a resposta,
Que não tardou em voltar na frase posta.
No bico da ave a falar: Nevermore.

Oh sábio e sagaz mensageiro.
Enviado por ser seu cordeiro.
Contesta essa alma que chora.
Quando terá chegado a hora.
De Lenora, eu tornar a rever.
Antes mesmo de algo eu prometer.
Aos meus ouvidos chegou; Nevermore.

Ponha-te daqui, enviado do cão.
Tuas mentiras não me convencerão.
Hei de encontrar minha amada Lenora,
Mesmo que não seja exatamente agora.
Não há de ser por lamentável engano,
Vindo de um animal, no mínimo profano.
Que não vou tornar a tê-la, Nevermore.

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