Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
________________________________________________________________________

sábado, 29 de maio de 2010

O Poeta - Alvaro Freitas

Mente, um universo mutante,
Que se transforma a cada novo instante.
Da urgia de imagens, palavras e cor,
Temperados com muito ódio e amor.
Na rotina monótona que passa,
Pela vida sem sal e sem graça.
O que seria do poeta sem o sonho?

No meu inferno pessoal e privado,
Crio a masmorra pra ser torturado.
E a heroína de braço potente,
Pra salvar esse pobre indigente.
Das correntes, tridente e chicote,
Que açoitam até a beira da morte.
O que seria do poeta sem as musas?

E a virgem, infeliz e indefesa?
Trancada na colossal fortaleza.
Com a besta, brutal e sem piedade,
Judiando da pobre, por pura maldade.
Até que o poeta, heróico e pontual,
Faz justiça no instante final.
O que seria do poeta sem as indefesas?

Neste mundo de bom e de mau personagem,
Criados da própria semelhança e imagem.
O poeta, solitário escritor,
Liberta seu maior opressor.
E o bravo guerreiro sagaz,
A lutar pela conquista da paz.
O que seria do bem sem o mal?

O retorno deste sonho confuso,
Para a realidade que caiu no desuso.
Carrega sempre a tal ficção,
Para a mente e pro coração.
Deixando o poeta em loucura,
O pobre vitimado da amargura.
O que seria dos sãos sem os loucos?

domingo, 23 de maio de 2010

O Corvo - Alvaro Freitas (releitura de Edgar Allan Poe)

Numa noite silenciosa e fria.
Acolhido pela chama que ardia.
Embebido com todo o meu fervor,
Nas páginas de um livro sem humor.
Esperando que as laudas aborridas que passassem,
As saudades de Lenora carregassem,
Para com Orfeu repousar em paz.

Quando as letras finalmente emergiram.
Substituindo os prantos que caíram,
Um ruído a porta me fez voltar,
E dos braços de Orfeu me fez saltar.
“Oh meu Deus, será um intruso?”
Ou será meu sentimento confuso?
Certamente uma visita, e nada mais!

Recompondo meus cabelos em desalinho.
E procurando meu roupão em um cantinho.
Respirava, tentando me acalmar.
Quem ousaria a essas horas me acordar?
Se não fosse pelo sentimento que me apavora.
Mandaria logo o forasteiro embora,
E não largaria meus sonhos jamais.

Senhor, ou senhora talvez,
Que da minha porta seu caminho se fez.
Queira aguardar com paciência um segundo,
Para que esse homem que repousava profundo.
Possa lhe a entrada, então franquear.
E com mais tempo poder me explicar.
Que se trata de um amigo, e nada mais.

Quando a porta finalmente se abriu.
O negrume da noite surgiu.
Nem um piu, nem a voz, nem um rosto.
Nada aguardava em seu posto.
Teria sido a alma de Lenora.
Vinda do céu que agora,
Faz seu porto de descanso e de paz?

Antes pois de voltar ao meu leito,
Fiquei mais um estante em espreito,
O suficiente para ver um estranho adentrar.
Grande e negro flutuando no ar.
Meu coração num súbito disparou,
Até que por fim o intruso na cadeira parou.
Tratava-se de um Corvo, e nada mais.

De tão mau agouro, o que vindes fazer?
Talvez um prenuncio de morte trazer.
Quem sabe o diabo de lá te mandou,
Pra trazer o que ele julgou,
Ser a pena desse pobre que passa,
Sua vida num mundo sem graça,
Aguardando a morte, e nada mais.

Ou quem sabe foi Deus quem mandou.
Que anunciasse a alguém que amou,
A mensagem de fé e de paz.
Para um ser que já sofreu demais.
Di-me, Corvo que me fita,
Vens por minha alma aflita,
Ou anseias algo mais?

Para o meu total espanto,
Fazendo engolir o amargo pranto.
Aquele animal de agouro,
Olhou-me como Cristão ao Mouro.
Então, crendo poder saber,
O seu nome quis eu conhecer.
O Corvo assim respondeu, “Nevermore.”

Di-me então, Nevermore!
De tantos amigos que tinha de cor.
Muitos que no Céu já hão de estar,
Irei eu, esta noite encontrar?
Com fé e angustia aguardei a resposta,
Que não tardou em voltar na frase posta.
No bico da ave a falar: Nevermore.

Oh sábio e sagaz mensageiro.
Enviado por ser seu cordeiro.
Contesta essa alma que chora.
Quando terá chegado a hora.
De Lenora, eu tornar a rever.
Antes mesmo de algo eu prometer.
Aos meus ouvidos chegou; Nevermore.

Ponha-te daqui, enviado do cão.
Tuas mentiras não me convencerão.
Hei de encontrar minha amada Lenora,
Mesmo que não seja exatamente agora.
Não há de ser por lamentável engano,
Vindo de um animal, no mínimo profano.
Que não vou tornar a tê-la, Nevermore.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

SER OU NÃO SER ENGANADO

SER OU NÃO SER ENGANADO
-Moço! Ei moço! Posso falar um instante com você?
Caminhava distraido pela rua Guaibê em Santos, quando ouvi aquela voz me chamando.
Parei e olhei para ele. Era um homem de meia idade, devia ter uns 38 anos, estava com a perna engessada do tornozelo até acima do joelho e caminhava com dificuldade. Aproximou-se dizendo.
-Sabe! Tive alta na Santa Casa e minha familia não foi avisada. Consegui chegar até aqui, mas moro em Vicente de Carvalho e não tenho dinheiro para pegar a barca e atravessar o canal.
-Será que você pode me ajudar?
Olhei em seus olhos e achei que falava a verdade, então dei os três reais que carregava no bolso. Agradeceu com um sorriso e segui meu caminho. Estava indo visitar uns parentes ali perto, na Rua Jurubatuba. Chegando lá não encontrei ninguém em casa, eles tinha saido. Então retornei pelo mesmo caminho. E passando em frente a padaria que fica no meio da quadra, proximo onde aquele homem me abordou, senti a raiva tomar conta de mim.
Encostado no balcão com um copo de bebida à frente, lá estava ele.
O homem da perna engessada.
O sangue subiu, senti vontade de ir lá brigar por ter mentido para mim. Mas, acabei me controlando e seguindo para casa. Aquilo me aborreceu muito, então prometi que nunca mais ia deixar ninguém me enganar.
O tempo passou e um dia estava em Florianopolis onde mora minha filha. Levei-a para uma consulta médica. Ela entrou no consultório e eu estacionei o carro na sombra de uma árvore. Fiquei ouvindo musica e com a porta aberta enquanto aguardava. Estava ali a algum tempo, quando surgiu um casal, não sei vindo de onde. O pai com a criança nos braços aproximou-se e mostrou uma receita perguntando se eu podia dar algum dinheiro, pois a criança precisava tomar aquele remédio. Em minha cabeça veio a lembrança do homem que me enganou em Santos e comentei que devia ir no posto de saúde que conseguia o remédio de graça. Ele disse que tinha estado lá e aquele medicamento não havia em estoque, tinha que ser comprado.
Disse que não tinha dinheiro e pude sentir o desanimo em seu rosto. Saiu sem dizer nada, seguido pela mulher. Ainda não tinha virado a esquina, alguns metros a frente, quando comecei a sentir uma sensação estranha. Era como se minha consciência cobrasse. Afinal, aquele remédio podia ser a diferença entre a vida e a morte para aquela criança.
Não era preciso comprar o remédio, bastava dar algum dinheiro. Ele ia ficar satisfeito e eu não ia ficar mais pobre. Então liguei o motor do carro e fui atrás deles. A rua que entraram era contra mão, tive que dar uma grande volta e com isso perdi muito tempo para chegar onde imaginei que estariam. Mas, não havia nem sombra deles. Rodei pelas imediações, e nada. Depois de algum tempo resolvi voltar e minha filha já estava me esperando. Perguntou onde tinha ido. Respondi que fui resolver um negocio mas não dei maiores explicações.
Voltamos para casa e fui pensando naquela criança. Será que agi certo? Tenho visto campanhas para não dar esmolas e que remedio a rede publica fornece. Mas, tem hora que temos a sensação de estar sendo cruel com as pessoas, como aquele chefe de familia com aquela criança. Pode estar desempregado e sei que na rede pública falta medicamentos. Fiquei com um peso grande na consciência e decidi que devo ser mais criterioso e analisar com calma para não ser enganado. Mas, sei também que as vezes é melhor arriscar para ajudar quem precisa, que virar as costas para todos.

JAF Falcão Peregrino

domingo, 16 de maio de 2010

Era uma vez... - Alvaro Freitas

Era uma vez, em um reino muito distante. No tempo em que os Dragões eram raros e viviam às margens da sociedade, escondidos nas trevas e sozinhos com o seu destino. No morro mais alto, cercado pela floresta mais sombria e infestada pelas criaturas mais assustadoras, jazia o Castelo dos Gemidos. Por séculos, tudo o que se sabia sobre aquele castelo não passava de lendas e superstições. Nenhuma história que fosse digna de ser considerada verdadeira era contada sobre os arredores da Floresta dos Mortos, onde ficava o castelo. Porém, nos últimos dias uma notícia repercutiu no vilarejo como fogo na palha. A notícia de que a Princesa Daiu, do reino de Booksfield estava na torre mais alta do castelo.
—Booksfield? Princesa Daiu? Onde fica isso?
—Eu vou embora e você vai ter que dormir sem história.
—Foi mal! Manda bala...
Logo a história chegou aos ouvidos do Príncipe. Sabendo que o reino dele era o mais próximo do Castelo dos Gemidos, sentiu-se na obrigação de ir até lá.
—Eu preciso da minha armadura e de minha espada. Escolha também o melhor cavalo do reino.
—Mas senhor!? Dizem que um enorme dragão vive naquele castelo e ninguém nunca voltou de lá para contar exatamente como ele é, exceto...
—Exceto quem?
—Ninguém. Deixa para lá.
Com a força de um único braço, o Príncipe ergueu seu fiel súdito quase até o teto.
—Diga logo bastardo. Quem conheceu o castelo e sobreviveu?
—O Juca Louco. Mas ele não é confiável, senhor.
—Pois selem mais um cavalo e ordenem a esse plebeu que me acompanhe.
Logo pela manhã, o destemido Príncipe, acompanhado pelo fanfarrão da vila, partiram para a vossa aventura. Cavalgaram o dia inteiro por entre árvores secas e petrificadas e pântanos assombrados. Parecia que sob cada rocha, havia um par de olhos a espreitar, aguardando a chegada da noite para atacar.
—Sir Juca. Conte-me tudo que sabe sobre o castelo.
—Eu sei muito pouco senhor. As pessoas na vila aumentam as minhas histórias.
—Então me conte o que sabe!
—O tempo em que os dragões povoavam a terra acabou a muitas gerações, porém, eles haviam construído um imponente castelo nessa floresta, em um local tão difícil e perigoso que até então, ninguém jamais ousou perturbar.
—E o dragão, ele existe mesmo?
—Existe! Ele é o último da sua espécie.
—E o que aquela idiota de cabelinho vermelho foi fazer lá?
—Mulher adora aparecer. Deve ter ido lá para fazer alguma maldade pro bichinho.
—Nós temos que chegar o quanto antes e salvar aquela pobre criatura das garras daquela besta de olhos verdes.
Assim os nossos heróis continuaram cavalgando. Durante o dia sob o escaldante sol, e durante a noite sob os olhares ameaçadores das feras.
—Maldita seja a lerdeza desse Príncipe. Há quase uma semana que eu o espero. Já estou fedendo a dragão. O povoado todo já sabe sobre a “Princesinha” na torre do castelo com o dragão e o Príncipe, vai saber, deve ter virado sapo por aí. Se demorar mais um dia, eu pego o meu dragão e vou atrás de outro ricaço.
A situação estava se agravando no castelo. A Princesa era capaz de tudo para conseguir poder, fama e dinheiro. O dragão temia pela sua própria vida.
—Eu vivo nesse castelo por mais de trezentos anos. Tenho me mantido afastado de encrencas desde então. O máximo que eu faço é emitir alguns ruídos durante a noite para afugentar curiosos. Eu tenho que quebrar esse paradigma de que dragão é mau, come campesinos, solta fogo pelas ventas. Caramba! Uma vez que me queixei da gastrite, associaram queimação no estômago com uma arma letal. Quando o ser humano vai aprender o que é metáfora?
—Para de resmungar jacaré! Eu tenho que ouvir quando o Príncipe chegar.
—Eu não vou deixar você fazer mal algum ao Príncipe. Eu o defenderei com minha própria vida se for preciso.
—Cala boca “Tic-tac”. Mais cedo ou mais tarde uma megera iria fisgar o coraçãozinho do tonto e torrar todo o seu dinheirinho. Que seja eu. Vai ensaiando a cara de mau.
Enquanto o clima esquentava no castelo. Sem saber do perigo que o esperava, os nossos heróis se aproximavam, armados e prontos para qualquer tipo de assalto, menos o velho e eficiente golpe da barriga.
—Opa! Espera aí! Tem criança no recinto! Se a história ficar picante eu chamo a mãe.
—Pivete desgraçado. Eu fico aqui contando historinha para o irmão dormir e ainda levo bronca. Pega leve!
—Anda logo! Ai o Príncipe chega ao castelo e...
E percebeu a batalha de morte entre a Princesa e o dragão. De um lado, a Princesa com uma espada, do outro o dragão com uma cadeira.
—Estranho! Não era essa cena que eu imaginava.
Ao perceber a presença do Príncipe, a luta tomou outra dimensão. E o dragão começou a agitar a sua enorme cabeça com a Princesa entre os dentes.
—Príncipe, pega a Princesa enquanto eu cuido do dragão. — Comandou o escudeiro.
Em uma ação orquestrada, a Princesa foi arrancada da boca da fera. Enquanto o Príncipe esmurrava a cara da Princesa, o Juca Loco oferecia água ao dragão para tirar o mau gosto da boca.
—MANHÊ! O Pedro tá zoando com a história!
—Tô não mãe! Esse moleque que é um bitolado.
—Quietos vocês dois. Termina logo essa história e já para a cama!
Enquanto o Príncipe e a Princesa rolavam no chão. O Juca Louco agarrou o dragão pelo braço e saíram em disparada, se assegurando de ter deixado as portas do castelo bem trancadas.
Por muitos anos, os habitantes dos dois povos choraram a perda dos seus entes queridos, que desde a trágica batalha, jamais foram vistos.
—E o Juca e o dragão?
—O Juca arrumou um disfarce para o dragão e passaram a viver no vilarejo.
—Ninguém percebeu o disfarce?
—Perceber, perceberam, mas se começassem a tirar as máscaras de todo mundo, seria pior para todos.
-E aí?
Viveram felizes para sempre. FIM. 

domingo, 9 de maio de 2010

Zoráculo - Alvaro Freitas

José Oraculano da Silva, operador de circuito fechado de televisão. Conte um pouco do seu trabalho para os nossos telespectadores!
—Pode me chamar de Zoráculo, todos me conhecem assim. E eu sou operador de Cê-Fê-TV. Eu gosto que chamem meu trabalho pelo nome certo. A gente tem que valorizar o nosso serviço.
Certamente! O senhor se orgulha do que faz?
—Mais é claro que sim. Em todo esse prédio, eu sou o mais importante. Sou eu quem julga o certo do errado. Se não fosse por mim, quem faria justiça?
Ufa! Essa eu não entendi. Explica essa de certo e errado.
—O outro dia veio um morador e falou: “Deixa eu ver a gravação da câmera da garagem do dia tal”. Espera ai moleque. Não é assim não. Aqui tem regras e o Zoráculo aqui tem responsabilidades.
E o que você fez.
—Saquei o formulário e falei: “Preenche ai mano! Num esquece de nenhum campo! Aqui, aqui e aqui.”
Ai você mostrou a gravação?
—Claro que não. Num sô “utubi” pra ficar mostrando filminho. As gravações são confidenciais. O que foi filmado, só eu posso assistir. Se alguém quer saber de alguma coisa, me explica o motivo e eu conto o que houve.
Não é mais fácil mostrar o filme?
—Lógico que não, Mané! Amadores! Vocês não foram treinados para interpretar corretamente o que está gravado. Se o Cê-Fê-TV filma um casal se beijando por exemplo. Ai chega a patroa do cara querendo saber o que houve, eu logo digo: “Num foi nada, só um cumprimento de vizinhos.” E tudo termina bem. “Capiche”?
E se for o marido da moça?
—“Mano, a vagabunda tá te botando chifre!” — “Com quem? Fala que eu mato!” — “Nunca vi o cabra no prédio!”
Espera aí! Isso é injusto!
—Tá questionando a minha autoridade! Num viu a minha farda não? E isso aqui que eu levo na cinta?
A lanterna?
—É muito mais do que uma lanterna. Esse é o meu símbolo de poder. No escuro sou eu quem dá as regras. Sou eu quem indica o caminho certo e deixa o errado no escuro.
Tudo bem, desculpa. Eu só não estava entendendo.
—Por isso que você é repórter e eu Operador de Cê-Fê-TV.
E nos casos simples?
—Aqui quem decide o que é simples e o que não é sou eu. E no meu prédio, não tem caso simples!
Um carro riscado por uma bicicleta na garagem. Se você olha a gravação e vê a filha de um morador arranhar a porta do carro do outro. Isso é simples.
—Depende do carro. Depende do morador. Depende da menininha. Só quem pode julgar sou eu. Pois eu tenho todas as imagens.
Como assim, depende do carro?
—I-30, puta dum carrão. Tem mais é que se ferrar. Sai por ai dando uma de galã e acha que todo mundo tem que desviar e pedir licença.
Fusca!?
—Conservadinho?
É!
—O pai da guria tem que pagar cada centavo. O cara dá um duro pra comprar o carango, lava, cuida, tudo original. Ai vem uma filhinha de papai, riquinha desgraçada e risca. Tem que pagar!
Isso não é certo!
—O senhor vem me entrevistar. É bem recebido e agora vem me ofendendo.
Eu não te ofendi, eu só disse que...
—Eu tenho provas das suas agressões. Está tudo gravado!
Então me mostra a gravação.
—Preenche o formulário. Em quarenta e oito horas eu te respondo se falta alguma informação e em setenta e duas horas eu lhe dou o veredicto.
Direto do Edifício Imperador para o “De olho na Notícia”.

sábado, 8 de maio de 2010

Calouro

E lá vamos nós de novo
brincar de ser poeta,
e o que eu não tenho medo
é de tentar fazer enredo.

Não tem jeito, nem quando eu me deito
gosto, tento, meço e faço
mas o que tenho é pé descalso
na estrada da palavra.

Me desculpo, homem matuto
por tomar-te todo o tempo
lendo, relendo, vendo e fazendo
todo esforço pra tentar me captar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mulher/Mãe.

Esta homenagem fiz para algumas mulheres/mães.
Nem todas mulheres são mães, apenas prestam ao papel de fêmea parideira,
fato que pode ser ocasional e neste acaso um filho pode ser mero fruto
indesejável, por minutos de prazer.

?...

E agora mulher vai teu filho chegar,
te amar como santa e de mão te chamar.
Por ele serás a sombra do próprio viver.
Depois que a mulher fica mãe tudo é motivo para chorar:
chora se o filho sofre,
chora se apenas pensar que este possa sofrer,
chora a beleza de vê-lo sorrir,
chora se na vida vencedor este volta para agradecer.
Mãe é algo difícil de se entender e impossível de analisar.
Não sabe se ri ou chora,
sabe ser mãe na hora que o filho perigos rondar.
No papel que desempenha,
onde fica você?
Será que te basta ser mãe,
esquecendo ser mulher?
Cada dia olha infinitamente para os que ama sem se vê.
Porém, tens um dia especial,
te cobrem de flores,
de ti se lembram para serem abraçados,
sim mamãe,
te fizeram este dia para o filho não esquecer,
que muito amor nos braços abertos,
a mãe tem para oferecer!

Musicalizando

- Oi Joãozinho! Está preparado? Se lembra que hoje vamos falar com o pai sobre o nosso namoro, né?

- É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim.

- Ai amor, eu falo sério, você tem que parar com essa mania de falar cantando, meu pai pode não gostar.

- Don't worry about a thing, 'Cause every little thing is gonna be alright.

- Ai deus, no que é que isso vai dar?! Olhe lá, ele está chegando...

- Ola camarada, eu sou o pai da Mariazinha.

- Alô criançada o Bozo chegou!

- O que foi que você disse?

- Digo, muito prazer Sr.

- Ah, está bem, e como você se chama?

- Para alegrar a rapa nas ruas da sul eles me chamam Brown, maldito vagabundo, mente criminal.

- O quê?

- Desculpe, me chamo João Sr.

- Imagino que já deva saber, nossa família tem uma empresa muito bem sucedida, muito conforto financeiro, belos carros e moramos numa linda casa na Granja Viana. E você onde mora?

- A lua cheia clareia as ruas do Capão.

- Capão, Capão Redondo!? Fala sério? Bem, deve ter algum condomínio luxuoso pra esses lados também. Não é o melhor lugar pra se escolher, mas, se vocês tiverem carros blindados, por mim tudo bem.

- E no que você trabalha?

- Estátuas e cofres e paredes pintadas, ninguém sabe o que aconteceu.

- Ah, deve ser com obras de arte e coisas relacionadas a museus então.

- Mas como é o ramo? Você lucra muito com isso?

- Ora bolas, não me amole, com esse papo de emprego, não ta vendo, não tô nessa, e o que eu quero é sossego.

- O que! Você não trabalha então?

- É prosti é prostituto.

- Nossa! Isso só pode ser linguagem de jovem mesmo. Deve ter outro significado. Tudo bem, deixe pra lá. E por que é minha filha se apaixonou por você, o que foi que você disse à ela?

- E por você eu largo tudo, carreira, dinheiro e canudo.

- Bem, não estamos nos entendendo direito. Vamos ao mais importante então. Quais são mesmo as suas intenções com a minha filha?

- Créééu, créééu, créééu!

- Já chega, alô, é da polícia? Há um elemento aqui em minha casa que quer desonrar a mim e a minha família, levem-no daqui!

- Polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia!

- Pai, não, não faça isso com o Joãozinho, por favor!

- Seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinqüente, sou um cara carente.

- Agora você vai ver o que é bom pra tosse, pensa que vai ficar a atrapalhar as pessoas assim, seu marginal.

- Deixe me ir preciso andar, vou por aí a procurar, rir pra não chorar.

domingo, 2 de maio de 2010

O Corsário Negro - Alvaro Freitas

Calmaria. Por esses lados do mar do Caribe, isso nem de longe é sinônimo de paz. Pode ser de silêncio, mas não de paz. As velas relaxam e adormecem, enquanto o olhar da tripulação enerva e se atenta aos céus e ao horizonte. Nem um mínimo movimento. As ondas se perdem, junto com a paciência dos marujos.
Cada qual procura uma tarefa nova. Já não há mais lemes para comandar, nem velas para subir ou recolher, tampouco estrelas para se guiar. Elas permanecem lá, no mesmo lugar do céu, assim como o grande veleiro jaz no mesmo ponto do imenso mar. Suspiros são ouvidos por todos os lados de proa à popa, vozes não. Até o pano molhado que lambe o convés ansioso por um pouco de pó para limpar, se move silencioso para lá e para cá nas mãos do... da...
—MARINHEIROS!! RATOS IMUNDOS, IMBECIS, O QUE É ISSO?
—Isso o que capitão? Um monstro marinho? Uma sereia?
—NÃO NO MAR, SEU PORCO FEDORENTO. LÁ, ESFREGANDO O CONVÉS.
—É a Matilde, nossa cozinheira. Como estamos com pouco serviço, vários homens foram ajudar com os alimentos e ela veio limpar o...
—MATEM-NA!! CORTEM-LHE A CABEÇA E FAÇAM-NA ANDAR NA PRANCHA!
—Mas capitão. Sem cabeça ela não poderá caminhar na...
—ESTÁ QUESTIONANDO A MINHA ORDEM, SEU COMEDOR DE LIXO?
—Não senhor capitão. É que como não tem ninguém por perto, achamos que não teria problema se ela saísse um pouco para tomar sol.
—POR UM MILHÃO DE SERPENTES MARINHAS. QUANTAS VEZES TENHO QUE FALAR QUE SOMOS UM NAVIO CORSÁRIO? TEMOS NOSSA REPUTAÇÃO. NINGUÉM PODE SABER QUE TEMOS UMA MULHER A BORDO.
—Capitão, a Matilde nem parece muito uma mulher. O Barba-negra, se raspasse a cara, seria mais feminino que ela.
—Matem a Matilde! — Gritavam os piratas enfurecidos. — Joguem-na aos tubarões.
—Capitão, ninguém viu nada. E mesmo que tivessem visto, muitos navios levam mulheres a bordo.
—NÃO O CORSÁRIO NEGRO. O MAIS TEMIDO DE TODOS OS MARES.
—Senhor! A nossa fama de valentes piratas não será afetada por uma mulher.
—NÃO SOMOS PIRATAS, SEU VERME BEBEDOR DE RUM. SOMOS CORSÁRIOS. NÓS MATAMOS, DESTRUÍMOS E SAQUEAMOS POR UMA BOA CAUSA. E NÃO DEIXAREMOS QUE UMA MULHER SUJE A NOSSA REPUTAÇÃO.
—Por favor, eu imploro. Matilde é muito importante para nós. Eu prometo que ela nunca mais verá o sol nem as estrelas, mas não a mate.
Matilde, sentada ao chão junto ao mastro observava seu julgamento como que se divertindo. Parecia que ela sabia que eles não a poderiam matar.
—DESSA VEZ NINGUÉM VIU. E DA PRÓXIMA?
—Não haverá próxima Capitão. Eu prometo!
—MATEM-NA E ESPALHEM O SEU SANGUE PELAS VELAS. ASSIM, TODOS SABERÃO QUE O CORSÁRIO NEGRO NÃO ADMITE NENHUM COMPORTAMENTO ESTRANHO.
Assim foi feito. Matilde foi morta. Seu corpo foi retalhado e lançado ao mar. Seu sangue foi espalhado pelas velas.
Ao ser lançado o último vestido ao mar, como que por milagre o vento voltou a soprar, trazendo a tranqüilidade que somente um bom dia de trabalho pode proporcionar.
—Capitão, já podemos avistar o porto onde o Rei e todo o povo nos aguarda para receber a parte deles das fortunas que saqueamos.
—ÓTIMO. MAS LEMBRE-SE, NEM UMA PALAVRA SOBRE O OCORRIDO!
—Capitão, temos um problema.
—FALA LOGO, VELHO BASTARDO!
—As velas, o sangue, a chuva... é que...
O Capitão, olhou imediatamente para cima. Removeu o tapa-olho. Tirou o chapéu e olhou para as velas, com mais espanto do que no dia em que viu sua perna ser arrancada por uma orca assassina.
—É capitão — disse o imediato entristecido. — As velas ficaram pink!
—NÃO REPITA ISSO OU EU O ATIRO AOS MONSTROS DO MAR!
—Rosa?
—CORTEM-LHE A CABEÇA!!
—Vermelhinho claro?
—MARINHEIROS. TODOS AO CONVÉS.
Toda a tripulação se reuniu atenta às ordens do Capitão.
—DIANTE DAS IRREFUTÁVEIS EVIDÊNCIAS, DEVEMOS NOS PREPARAR PARA UMA BATALHA. EMPUNHEM VOSSAS ESPADAS PARA DEFENDER A NOSSA HONRA. MATEM, MORRAM SE PRECISO FOR, MAS NÃO DEIXEM VIVA ALMA QUE OUSE ZOMBAR, COMENTAR OU ATÉ MESMO OBSERVAR AS NOSSAS VELAS, digamos, diferentes.
Eles nem imaginavam que a maior e mais terrível das batalhas estaria por vir.
Boa sorte Capitão e que Deus tenha piedade do Corsário Negro!