Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
________________________________________________________________________

domingo, 25 de abril de 2010

CArne DAda aos VERmes - Alvaro Freitas

Estamos transmitindo direto do vale do Anhangabaú, bem diante de uma entrada secundária do metrô onde uma coisa amanheceu hoje atrapalhando a passagem.
Por favor senhor. O que é aquilo lá no meio?
—É um carinha com um furo no peito!
Furo? Vamos ver isso mais de perto... Com licença, um passinho ao lado por favor... Estou quase lá... Ufa! Cheguei.
Minha senhora, por favor, chegue um pouquinho para trás para eu mostrar o furo para os nossos telespectadores.
—Que furo?
No peito do carinha!
—Carinha?
É, esse aí perto do seu pé!
—Nossa! Se fosse um bicho tinha me mordido. Eu estou esperando uma amiga. Nós vamos viajar.
Sério! Para onde?
—Praia Grande. Conhece?
Aquela que tem um aquário?
—Moço. Você está pisando no carinha do furo!
Deus do céu! Perdi o foco. Desculpe telespectadores. Por favor Zeca, dê um close no furo.
Esse furo nem é lá essas coisas, mas vamos ver se alguém sabe nos dizer algo.
Alguém aqui sabe o que aconteceu?
—Eu estava indo para o trabalho, quando vi uma coisa atrapalhando a passagem, então fui desviar e dei de cara com você perguntando se alguém...
Ok, ok, muito obrigado. Acabamos de ouvir um “não” dito por um Paulista.
E você, tem algo a nos dizer?
—Hã??
Agora ouvimos um “não” de um Mineiro.
Você com uma arma na mão! Saberia me dizer algo?
—Qual é? Não vem me acusando não! Alguém me ligou hoje, lá pela cinco da matina. Vê se isso é hora! O fulano disse que a minha mina tinha um caso com outro e que eles iam se encontrar aqui na estação. Ai eu peguei a arma e vim. Mas eu não fiz nada, nadinha. Quer saber? Tchau!
Bom, agora ouvimos um típico “não” dado por um corno. Será que ninguém por aqui sabe de nada?
Vamos ver o casalzinho apaixonado atrás da coluna. Com licença... Vocês poderiam parar com isso um pouco?... Moço, o senhor vai engolir a moça! Solta, solta, isso...
—Vai, fala logo, o que foi?
Você sabe algo do carinha com o furo no peito?
—Que saco! Eu acordei cedo pra caramba. Tive que dar um chapéu no mala do meu marido para vir encontrar com esse gato e você fica me perguntando do carinha! Tá bom. O que eu sei é que ele tava conversando com uma baranga com um vestido igual ao meu, então eu ouvi um “táh” e depois um “tum”.
Agora, caro telespectador, vocês ouviram um “não” dado por uma quenga. Quantas formas de dizer um ”não sei” podemos ter?
Você aí flutuando com a cara branca! Poderia nos dar o seu depoimento?
—A imagem está meio ruim. Eu não estou conseguindo acertar o foco no cidadão.
Faz a sua parte que eu faço a minha! Eu entrevisto e você filma. Entendeu ou quer que eu desenhe?
Desculpe. O senhor viu algo de estranho por aqui?
—Vi sim. Eu estava indo para a escola quando uma mulher com um vestido florido veio me pedir uma informação. Quando eu estava explicando, ela começou a se sentir mal, então eu a segurei e a ajudei a se sentar naquele banco. Então, um cara veio e gritou algo para mim, aí, a luz escureceu e voltou de repente. Quando me olhei, estava de camisola branca indo em direção àquela luz, foi ai que você me chamou.
Você viu o que aconteceu com o carinha do furo?
—Carinha, onde?
Puta-que-pariu!! Hoje eu perco meu emprego. Ninguém sabe de nada. Vai criatura. Vai seguir a tua luz que eu tenho que trabalhar.
Você ai!.. Ô vermelhinho!... Ô do chifre!... É, você mesmo! Você sabe de alguma coisa sobre o traste que está atrapalhando a entrada do metrô bem no horário de pico?
—Quem falou que fui eu? Foi o Pedro, não foi? Pescador fofoqueiro, puxa-saco!
Ninguém falou nada, eu só achei que o senhor...
—O pessoal me pinta mais feio do que sou. Se eu não tivesse oferecido a maçã, a vida de todos ia ser uma chateação. Passarinho, frutinha, aguinha fresca... Vai costela vem beldade. Todo mundo pelado, peitinho pra lá, bundinha pra cá. Foi melhor assim. Eu não me arrependo!
Meu! Você é louco! Dá para voltar ao assunto? Se não sabe, fala logo que eu vou entrevistar o Rabino lá da calçado.
—Tá bom, tá bom, eu conto. Mas não chama o Rabino. A vidinha dos dois estava um tédio. Beijinho. Amorzinho. Eca, que nojo! Então eu botei um temperinho e ela conheceu o boca doce.
Você está mudando de assunto!
—Tô não!
Jura?
—Sai pra lá. Não vem com ignorância. Deixa eu continuar.
Aquilo abanando aí atrás é um rabo?
—Fala pra ele parar de filmar a minha bunda senão eu vou embora!
Já paramos. Pode continuar.
—Ai, a coisa só piorou. Era xodozinho, fofurinha e amorzinho em casa e na rua. Depois o falso e traidor sou eu.
Foco!!
—ENTÃO, eu liguei pro boi e falei do encontro da tia com o bico dose. O cabra ficou do jeito que eu gosto. Pegou a pistola e saiu babando.
Quando o “coiso” furado entrar na conversa você me acorda?
—Cara chato dos infernos você!
Você que é! Quer saber? Eu te dou mais dez segundos, se você não terminar a história eu vou com o Rabino. Combinado?
—Feito! Ai a muié tava no lambe-lambe com o bico doce, o corno do revolver chegou, o carinha, ainda sem furo, passou, eu fui zoar e fiz a tia do vestido igual dar uma abraçadinha, o corno furou o furado, a vaca ficou no chup-chup e o resto você já sabe. Pronto. Falei!
Vá pro inferno! Não entendi nada!
—Vou mesmo!
Direto do Vale do Anhangabaú para o “De olho na Notícia”.

3 comentários:

  1. Hahahah que loucura!
    Ótimo, ótimo, ótimo! Estava com saudade de ler seus textos meu brother.
    Curti! Diabo resmungão, dia a dia do povo, repórter insensível e expectadores desligados...

    Eu diria que essa receita poderia ser descrita assim:
    1 dose de comédia,
    2 xícaras de crítica social
    1 xícara de crítica de religiosa,
    uma pitada de comportamento contemporâneo.

    Modo de preparo: Misture até chegar no ponto e leve ao forno brando.
    Hahaha

    ResponderExcluir
  2. Não acredito menino, que cara linguarudo, arrumou toda esta confusão só para mostrar um chifre que o outro figia não ver haja.Hahahahahahah.

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pelo convite.

    A dinâmica está igualzinha ao Anhangabaú. O nome do repórter não é São Paulo não? E o furo então, no peito, no bolso, na cara do paulista. Muito bom!

    ResponderExcluir