Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
Se desejar fazer parte, deixe uma mensagem com um exemplo do seu texto.
________________________________________________________________________

domingo, 18 de abril de 2010

A DERRADEIRA VIAGEM

A caminho do trabalho, Abigail avistou por entre as grades do grande portão, os velhinhos.
Um sentado sob uma árvore, outro num canto lendo um livro. E pelos semblantes, pode notar alguns perdidos nas lembranças, então pensou em visita-los.
No final de semana, comprou alguns biscoitos e foi para o asilo. Deixou com a encarregada e dirigiu-se ao pátio. Sentou-se e conversou um pouquinho com cada um. Alguns se mantinham calados, só respondendo o que perguntava. Outros gostavam de conversar e falavam sem parar.
Com uns ela ria, com outros se emocionava. Em um banco uma senhora loira fazia uma toalha de crochê e quando Abigail se aproximou, sorriu dizendo.
-Senta minha querida, estou fazendo essa toalha de encomenda para uma moça que mora aqui perto. Era mesmo um trabalho bonito e que agilidade nas mãos. Disse que com o dinheiro comprava presente para a sobrinha que de vez em quanto ia vê-la. Conversou mais um pouco até que olhando para um canto, aquele homem chamou sua atenção.
-Coitado do Aldo, está de novo no portão. Disse a mulher da toalha de crochê. Olhava apreensivo para a rua, como se estivesse esperando alguém. Então ela foi até lá e perguntou.
-Está gostando de apreciar o movimento? Distraido e com os olhos fixos na esquina, virou-se dizendo. -Não! Não estou apreciando o movimento, estou esperando meu filho. Ele disse que vinha me visitar no fim de semana. Abigail sentiu um aperto no coração. O coitado esperando o filho ingrato que não aparece.
-Vai ver, algum trabalho de última hora impediu de vir, mas tenho certeza que assim que der, virá. Com olhar incisivo e ar cansado, falou olhando para ela.
-As coisas para mim não fazem mais sentido. Trabalhei muito na vida para criar os filhos. Minha esposa foi uma mulher maravilhosa, dedicou-se a todos com muito amor e carinho. Um dia o filho mais velho foi com ela passear na casa da irmã e sofreram um acidente.
-Deus os levou de uma só vez. Fiquei só com meu filho mais novo. No começo foi dificil, a gente sentia muita falta deles. Um ano depois, meu filho se casou com uma moça que deixou claro que não queria ninguém morando junto. Tinha tanto espaço na minha casa, mas foram morar de aluguel bem distante. Sozinho dentro daquelas paredes, a solidão estava me aniquilando. Meu filho já não me visitava mais. Diante de tanta tristeza, comecei a não me alimentar direito. Fiquei doente e os vizinhos chamaram meu filho que resolveu a questão me colocando aqui e indo morar em minha casa.
-Confesso que desde que cheguei tenho me recuperado, as pessoas são muito boas. Todos gosta de mim. E hoje, exatamente hoje, dia dos pais, está fazendo quatro meses que não vejo meu filho.
Tenho esperado todo domingo! Mas ele não vem. Olhando para ela com a voz embargada concluiu.-Agora vejo que quando me trouxe para cá, era para que fosse a minha derradeira viagem. Ela escutou em silencio deixando o pobre velho desabafar. Enlaçou-o pelo braço dizendo.
-Vamos para dentro. Enquanto caminhavam, notou as lágrimas escorrendo por aquele rosto abatido. Deixou-o sentado na sala de estar e prometeu que sempre que pudesse vinha vê-lo.
Saiu do asilo pensando sobre aquelas pessoas. Que triste destino, abandonado pelos filhos.
Mesmo nas dificuldades um pai não abandona os filhos. E na velhice, quando mais precisa de amparo e de amor, os filhos colocam ele num asilo. E pior, nunca mais vão visita-los: não tem tempo para eles. E os pobrezinhos esperam pelo filho amado que nunca aparece.

JAF-Falcão Peregrino

2 comentários:

  1. Muito bom, parabéns. Seus textos são sempre marcantes.

    ResponderExcluir
  2. Esse assunto sempre nos incomodou e incomodará, infelizmente, mas vale nos lembrar, obriga a parte que me cabeeeeeeeee,beijos.

    ResponderExcluir