Hoje o dia está maravilhoso — quente e úmido como todo bom dia de verão deveria ser.
— Aquilo, que aquela enorme máquina retira do fundo do rio e vai empilhando nas suas margens, emana um apetitoso aroma de fartura. Toda aquela abundância de alimentos nos atraia como lâmpadas para mariposas. Ah, quantos parentes! Ah, quantos amigos! Graças a Deus e aos homens, essa fartura nunca há de se acabar.
Curtindo a sombra de uma faraônica árvore, dois gigantes se preparam para devorar suas presas que brutalmente sacaram de seus compartimentos.— Aquilo, que aquela enorme máquina retira do fundo do rio e vai empilhando nas suas margens, emana um apetitoso aroma de fartura. Toda aquela abundância de alimentos nos atraia como lâmpadas para mariposas. Ah, quantos parentes! Ah, quantos amigos! Graças a Deus e aos homens, essa fartura nunca há de se acabar.
—Será que aquilo que eles estão comento tá morto?
—Se não tiver, tanto faz. Olha o tamanho daquelas bocas!
—Um só deles seria capaz de engolir a minha família inteira sem mastigar!
Apesar de aquela cena nos dar medo e até um pouco de nojo, o que eles comiam nos seduzia de maneira incontrolável — se o tal manjar dos deuses existe, acho que é aquilo o que eles têm nas mãos.
Nós sabíamos que não precisávamos da comida deles. Estávamos fartos com toda a abundância que o Tietê nos oferece. Sabíamos também que nossos pais haviam nos ensinado a não nos aproximar de estranhos, principalmente enquanto comem, pois eles costumam ficar furiosos. Mas a fartura era muita. O que eles tinham naquelas malas era mais que suficiente para todos nós.
Porém, o egoísmo daquele dois era demais. Mal nos aproximamos e eles começaram a deflagrar violentos golpes contra nós, no vazio e até neles mesmos.
—O que eles pensam que estão fazendo? Para que tanta ignorância? Será que eles não percebem a descomunal força que têm?
—VAI COM CALMA AÍ OH GRANDÃO! — Gritei com toda a minha força, embora, para eles, parecesse ter sido só um zunido.
—Eles podem nos chamar do que quiser. Mas nós sabemos repartir o nosso alimento. Nós jamais negaríamos a um estranho o melhor lugar na nossa refeição.
—Ainda me lembro do dia que estávamos nos fartando e veio um deles, pegou a nossa carcaça e nem comer comeu. Abriu um buraco e a enterrou.
—Porque eles acham que os vermes merecem mais do que a gente?
—Inveja — só pode!
—E aí, vamos tentar de novo aquele lanchinho?
—Olha só! Enquanto estávamos aqui filosofando, aqueles brutamontes devoraram tudo e se mandaram.
—Oh vidinha besta a deles, hem?
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