Esse blog foi criado pelos alunos do professor Ricardo para divulgar os rascunhos literários.
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quarta-feira, 17 de março de 2010

A mosca - Alvaro Freitas

Hoje o dia está maravilhoso — quente e úmido como todo bom dia de verão deveria ser.
— Aquilo, que aquela enorme máquina retira do fundo do rio e vai empilhando nas suas margens, emana um apetitoso aroma de fartura. Toda aquela abundância de alimentos nos atraia como lâmpadas para mariposas. Ah, quantos parentes! Ah, quantos amigos! Graças a Deus e aos homens, essa fartura nunca há de se acabar.
Curtindo a sombra de uma faraônica árvore, dois gigantes se preparam para devorar suas presas que brutalmente sacaram de seus compartimentos.
—Será que aquilo que eles estão comento tá morto?
—Se não tiver, tanto faz. Olha o tamanho daquelas bocas!
—Um só deles seria capaz de engolir a minha família inteira sem mastigar!
Apesar de aquela cena nos dar medo e até um pouco de nojo, o que eles comiam nos seduzia de maneira incontrolável — se o tal manjar dos deuses existe, acho que é aquilo o que eles têm nas mãos.
Nós sabíamos que não precisávamos da comida deles. Estávamos fartos com toda a abundância que o Tietê nos oferece. Sabíamos também que nossos pais haviam nos ensinado a não nos aproximar de estranhos, principalmente enquanto comem, pois eles costumam ficar furiosos. Mas a fartura era muita. O que eles tinham naquelas malas era mais que suficiente para todos nós.
Porém, o egoísmo daquele dois era demais. Mal nos aproximamos e eles começaram a deflagrar violentos golpes contra nós, no vazio e até neles mesmos.
—O que eles pensam que estão fazendo? Para que tanta ignorância? Será que eles não percebem a descomunal força que têm?
—VAI COM CALMA AÍ OH GRANDÃO! — Gritei com toda a minha força, embora, para eles, parecesse ter sido só um zunido.
—Eles podem nos chamar do que quiser. Mas nós sabemos repartir o nosso alimento. Nós jamais negaríamos a um estranho o melhor lugar na nossa refeição.
—Ainda me lembro do dia que estávamos nos fartando e veio um deles, pegou a nossa carcaça e nem comer comeu. Abriu um buraco e a enterrou.
—Porque eles acham que os vermes merecem mais do que a gente?
—Inveja — só pode!
—E aí, vamos tentar de novo aquele lanchinho?
—Olha só! Enquanto estávamos aqui filosofando, aqueles brutamontes devoraram tudo e se mandaram.
—Oh vidinha besta a deles, hem?

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